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Reinaldo Azevedo

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Caso Lancelotti: duas mentiras grotescas contadas pelos amigos do padre

Leiam a carta de Hélio Bicudo publicada na Folha de hoje: “A respeito de recentes reportagens sobre a atuação de padre Júlio Lancellotti, informações são pinçadas aqui e ali para passar uma imagem equivocada do padre Júlio, quando, na verdade, o que ele fez foi tão-somente se exceder na sua bondade para ajudar ex-internos da […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 20h16 - Publicado em 27 out 2007, 19h09
Leiam a carta de Hélio Bicudo publicada na Folha de hoje:

“A respeito de recentes reportagens sobre a atuação de padre Júlio Lancellotti, informações são pinçadas aqui e ali para passar uma imagem equivocada do padre Júlio, quando, na verdade, o que ele fez foi tão-somente se exceder na sua bondade para ajudar ex-internos da Febem, os quais, além da ajuda, passaram a violentá-lo com ameaças, as mais variadas, tornando a sua vida, ao esgotarem-se os recursos que amealhara, difícil de ser vivida.A partir desse momento, o padre Júlio pediu o auxílio do governador Geraldo Alckmin e levou suas queixas ao Ministério Público, que iniciou, há quase um ano, processo penal por crime de extorsão (art.158, do Código Penal) contra os responsáveis pelas violências sofridas pela sua vítima. Isso não foi nem sequer noticiado.Os jornais estampam a notícia de que “a ONG Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto será submetida a uma investigação”, quando, em nota de esclarecimento da direção daquela ONG, resta claro que o padre Júlio -e aqui a insinuação- não tem acesso ao movimento financeiro da organização.O padre Júlio é uma das figuras emblemáticas da defesa dos direitos humanos no Brasil. É assim conhecido também no exterior. Notícias que buscam o sensacionalismo e que, na verdade, concorrem para engrossar a campanha cotidiana contra os direitos humanos não servem à verdade e à democracia, mas concorrem para o aumento da violência no país.”

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É visível que os amigos do padre Júlio Lancelotti querem politizar o caso, como se estivesse em questão a atuação pastoral do padre. Trata-se de uma mentira grotesca.

Há mais. Mesmo numa situação penosamente constrangedora, Lancelotti não muda a sua prática política. A outra mentira é a suposta negligência do governo Alckmin. Abaixo, em azul, conto como se desenrolou esse caso. O problema é que o padre nunca quis prestar queixa. Esperava, justo ele, uma atuação informal da polícia.

A verdade é esta que segue abaixo. E desafio Lancelotti a provar que não. Segue post publicado na quarta-feira:

Padre Júlio Lancelotti, que tem um jeito estranho e caro de “tocar o coração de seus protegidos”, afirma por aí que não recebeu a devida atenção da “polícia de Alckmin” quando “denunciou” as ameaças que dizia sofrer. Acontece que o que este senhor afirma não se escreve. Vejam na nota abaixo. Agora que a polícia decidiu investigar detalhes de sua generosidade, ele diz que doou a seu “correria” de estimação R$ 80 mil, não R$ 50 mil, conforme a acusação inicial: uma pequena elevação de 60%… Também o seu pedido de socorro à Polícia tinha um jeito estranho de ser. Acompanhem o que apurou este blog.

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Em outubro de 2004, ele procurou a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo e disse que estava sendo “incomodado” por um rapaz chamado Anderson. Naquela ocasião, não falou em ameaça ou em extorsão. Nem mesmo entrou em detalhes sobre a natureza do “incômodo”. A Secretaria fez o que lhe cabia: encaminhou-o à Delegacia Geral da Polícia Civil de São Paulo.

Na Delegacia Geral, foi informado que existe estado de direito no Brasil e que um órgão público não pode atuar ao arrepio da lei só porque o padre é uma celebridade, certo? Foi informado de que uma investigação sobre Anderson só poderia ter início se ele, Julio Lancellotti, prestasse uma queixa formal contra o rapaz. Aí o coração do padre se enterneceu. Preferiu deixar pra lá.

Dois meses depois, ele estava de volta à Secretaria. Para reclamar de Anderson outra vez. Deve ser o que o padre classifica de percalços imprudentes do amor. De novo, foi encaminhado à Delegacia Geral. E ouviu, pela segunda vez, que era preciso prestar uma queixa, ou a ação da Polícia seria ilegal. Ele voltou a declinar do cálice. Um homem pio e santo.
A Polícia estava de mãos atadas. Em briga de padre e seu correria, ninguém mete a colher, certo?

Passaram-se dois anos sem reclamações. Só posso supor que Anderson permitiu que seu coração fosse tocado nesse tempo. Até que o clima de amor cristão azedasse novamente. Aí padre Júlio não quis saber dos civis. Apelou diretamente aos militares. Disse que estava sendo ameaçado, mas por Marcos José de Lima, um viciado que comprava drogas de Anderson.

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Os policiais foram atrás de Lima e o prenderam. Dias depois da prisão, o padre voltou a entrar em contato com a PM. Falou que, mesmo da cadeia, Lima continuava a ameaçá-lo por telefone. A polícia deu uma prensa no sujeito — segundo, evidentemente, os rigores dos direitos humanos exigidos por Lancelotti —, e as ligações pararam. No fim do mês passado, o padre recorreu a uma delegacia de polícia para formalizar a denúncia de extorsão.

Roteiro incrível
Foi assim que as coisas aconteceram. E Lancelotti sabe que é verdade. A “polícia de Alckmin”, como ele chama, deu-lhe toda a atenção. Mas nunca conseguiu saber o que o padre esperava dela ao lhe pedir ajuda informal. O que queria? Que os policiais agissem ao arrepio da lei? Que dessem “uma prensa” no seu correria, que ele alimentava a pão-de-ló e Pajero? Que desse um susto no rapaz para que ele parasse de ameaçar o padre influente?

Por que a história acima é importante? Porque o padre precisa parar de misturar as suas lambanças da vida privada com a sua militância política. Por conta de seu “amor imprudente”, uma parte do efetivo policial de São Paulo está hoje mobilizado em sua proteção. De maneira vexaminosa, ele tenta misturar a militância ideológica com a sua vida privada para, claro, dizer-se “perseguido”. Em parte, dá resultado. Ele está sendo protegido por boa parte do jornalismo.

A polícia agiu como polícia. Antes e agora. E Lancelotti? Comportou-se como um padre da Igreja Católica Apostólica Romana?

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