Até agora, Cunha não se intimidou. Deputado volta a acusar o Planalto e a PGR de se unirem contra ele
Se alguém apostava que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), fosse se intimidar depois da acusação que lhe fez o lobista Julio Camargo — segundo o qual o deputado recebeu US$ 5 milhões em propina —, apostou errado. Ao menos até agora. Cunha foi o convidado de um evento promovido pelo Lide (Grupo de Líderes […]
Se alguém apostava que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), fosse se intimidar depois da acusação que lhe fez o lobista Julio Camargo — segundo o qual o deputado recebeu US$ 5 milhões em propina —, apostou errado. Ao menos até agora. Cunha foi o convidado de um evento promovido pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais) nesta segunda. E voltou a falar, claro!, sobre a acusação de que é alvo e o impeachment.
“Foi uma interferência do Poder Executivo, que todo mundo sabe que não me engole”, afirmou. Sobre o rompimento com o governo, disse: “A história não reserva lugar para aqueles que são fracos. Não são apurações falsas que vão impedir o meu exercício”.
Vamos lá. Cunha está em rota de confronto com o Ministério Público desde que a Procuradoria-Geral da República decidiu abrir um inquérito para investigá-lo. O deputado acusa a interferência direta do Palácio do Planalto na chamada “Lista de Janot”, mais especificamente, a do ministro José Eduardo Cardozo, da Justiça, que teria agido, é evidente, em nome da presidente Dilma.
Se é até lógico que todo investigado se volte contra a autoridade que o investiga, uma coisa é realmente estranha nessa história. Camargo já havia negado quatro vezes que tivesse pagado propina a Cunha, inclusive no depoimento no âmbito da delação premiada. Mudou de versão do dia para a noite, alegando ter mentido antes porque teria medo do deputado. A versão pode ser tudo, menos convencional.
Segundo apuração da Folha, procuradores se reuniram com Camargo e afirmaram que ele poderia não ter o benefício da delação premiada porque não estava contando tudo o que sabia. Outro dado heterodoxo é que a acusação contra Cunha foi feita ao juiz Sergio Moro, da primeira instância. O deputado tem direito a foro especial por prerrogativa de função.
Que o Planalto se regozija com a acusação, isso não precisa ser provado.
O deputado fez uma ironia com os petistas que defendem que ele renuncie ou deixe a presidência da Câmara: que peçam, então, por isonomia, a saída de Dilma e de pelo menos dois ministros contra os quais também há acusações: Aloizio Mercadante e Edinho Silva. “Talvez eles resolvam aderir à tese do impeachment.”
Cunha afirmou que fará uma avaliação técnica, não política, dos pedidos de impeachment e voltou a dizer que o procedimento não pode ser usado como “arma eleitoral”. Segundo ele, não está pensando em se vingar: “O fato de eu ter um rompimento pessoal como reação a uma covardia que estão tentando fazer não significa que é a reação do político. Isso nunca vai ser confundido”.
Cunha foi muito duro com a política econômica do governo. Segundo ele, o ajuste fiscal “é pífio”. O deputado repetiu para empresários a crítica feita em entrevista ao programa “Os Pingos nos Is”, que ancoro na Jovem Pan: o governo não tem agenda e não sabe para onde vai. Nessa perspectiva, o arrocho em curso acaba sendo entendido pela população como um esforço inútil.
Ah, sim: antes do evento, Cunha foi alvo de um protesto de um grupo chamado “Juntos!”. Eles carregavam uma faixa “Fora Cunha”. Segundo um dos que protestavam, o deputado é “inimigo da juventude” por defender pautas conservadoras. E quem, afinal, fala em nome “da juventude”? Segundo deu para entender, eles próprios: dez pessoas. Ah, bom!