As leis ou as urnas?
Já disse que acho os números compatíveis com a realidade política pós-primeiro turno. O PT retesou os músculos e foi para a luta, empregando todas as armas que tem: as lícitas e, por que não?, as ilícitas. É de sua natureza. Esse terrorismo com a questão da privatização da Petrobras e do Banco do Brasil […]
Já a campanha de Alckmin sacou mais um clichê, de uma lista enorme, da algibeira: “Segundo turno é outra eleição”. Trata-se de uma daquelas frases acacianas típicas do tempo em que alguns tucanos diziam que intenção de voto só traduzia o “recall”, como se isso fosse negativo. Estávamos ali pelo fim de 2005. Alckmin também costumava dizer uma outra: “O eleitor só decide perto da eleição” — ou coisa assim. Na esmagadora maioria dos casos, quem vence o primeiro turno também leva o segundo. As exceções, como sempre, só evidenciam a regra.
Ocorre que Alckmin lidera uma equipe que não gosta de ouvir. Tem sempre idéias muito próprias sobre qualquer assunto. E uma certeza mística que se confunde, às vezes, com parvoíce. Entre outras besteiras, como foi apontado aqui, permitiram que a campanha esfriasse. Está tudo perdido? Não.
Sacolejos
O dossiê levou ao segundo turno. Algumas bombas vão estourar no quinta do PT. E, desta feita, vêm da imprensa. É aguardar para ver. A desmoralização não será pequena. Para começo de conversa, foi preciso abortar uma operação que já estava em curso. Segundo a versão que era do agrado de quase todo mundo, a origem do dinheiro seria caixa dois da campanha de Mercadante, em São Paulo — sem, é claro, o conhecimento do candidato… Mas não só isso. Os petistas teriam sido alertados pelo submundo que Abel Pereira estava interessado em comprar um dossiê dos Vedoim e, por isso, decidiram — tolamente, coitados! — entrar numa espécie de “concorrência”. E ficaria tudo por isso mesmo. Sem que se chegasse, porque supostamente impossível, à origem da grana.
Mas a versão vai ser desmontada até o dia 29, data do segundo turno. Será o bastante para eliminar a brutal vantagem de Lula? Não sei. Sinceramente, eu acho que não. Os petistas ocuparam primeiro o lugar das vítimas, o que lhes garante um formidável poder. Mas estou apostando que boa parte do banditismo que diz respeito ao dossiê vem à luz antes do que se imagina.
E então
A Constituição é o povo por extenso. As oposições devem recorrer a todos os meios legais que estiverem a seu alcance para responder à tentativa de golpe que representou o dossiê contra José Serra. Posso estar preocupado, e estou, mas intelectualmente muito satisfeito — à diferença do que estão sugerindo os petralhas, que apostam que estou arrancando os cabelos (no momento, nem os tenho…). Ainda em Primeira Leitura, e aqui também, escrevi dezenas de vezes que o petismo só prospera se falece o Estado de Direito.
Lula nos conduziu a um aparente paradoxo: ou triunfam as urnas ou as leis. E por que ele é apenas aparente? Porque as leis e as urnas só estão em oposição quando há gente disposta a usar as urnas para assaltar as leis.