As eleições na Tunísia e uma condenação na “primavera” egípcia
A Tunísia realiza eleições hoje. O Nahda (Partido do Renascimento Islâmico) deve ser o mais votado, mas não deve obter a maioria. Disputam as 218 cadeiras do Congresso Constituinte nada menos de 110 partidos. O Nahda aprendeu a falar a linguagem da moderação. O modelo assumido pela turma agora é a Turquia do primeiro-ministro Recep […]
A Tunísia realiza eleições hoje. O Nahda (Partido do Renascimento Islâmico) deve ser o mais votado, mas não deve obter a maioria. Disputam as 218 cadeiras do Congresso Constituinte nada menos de 110 partidos. O Nahda aprendeu a falar a linguagem da moderação. O modelo assumido pela turma agora é a Turquia do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan. A imprensa ocidental costuma exaltar a “democracia turca”. Então tá. Voltarei ao tema nos próximos dias. Não sei por quais caminhos o “renascimento islâmico” pode se encontrar com a democracia. Na Turquia, dou uma palhinha de por onde vou quando voltar ao tema, mais a democracia se islamizou do que o islamismo se democratizou, entendem? Claro, claro, tudo é uma questão do ponto de vista do qual se fala: eu falo do ponto de vista de quem vibra com a expansão da democracia, mas sei que há quem vibre com a expansão do Islã…
A Tunísia era o mais ocidentalizado dos países árabes mesmo durante a ditadura. A lei garante, por exemplo, a igualdade entre homens e mulheres, o que não é exatamente do agrado dos religiosos. O Nahda diz que pretende deixar tudo como está. Vamos ver por onde se dará a islamização pretendida. Há de ser por algum lugar, ou eles formariam um partido laico, certo? Por ter sido o país que iniciou isso que chamam “Primavera”, os desdobramentos políticos da Tunísia tem uma importância simbólica.
Eu tendo a desconfiar da “Primavera”, como sabem. Uma notícia de ontem no El País sobre o Egito dava o que pensar. Reproduzo:
Um tribunal egípcio condenou hoje [ontem] um homem, Ayman Yousef Mansur, a três anos de prisão por insultar o Islã e promover o sectarismo religioso através de postagens em sua conta no Facebook. O juiz do Tribunal Penal do bairro cairota de Al Azbekiya, Sharif Kamel, emitiu a sentença por considerá-lo culpado de “prejudicar deliberadamente a dignidade do Islã ao zombar dele e desprezá-lo em sua conta pessoal no Facebook”, conforme noticiou a agência estatal de notícias Mena.
O condenado “se aproveitou da religião para propagar idéias extremistas com a intenção de criar sectarismo religioso e prejudicar a unidade nacional”, empregando “expressões vergonhosas contra o Corão, contra o profeta Maomé e contra os muçulmanos”, enfatizou o juiz na leitura do parecer.
Em 2007, ainda sob a ditadura do ex-presidente Hosni Mubarak, outro homem, o famoso blogueiro Karim Amer, foi condenado a quatro anos de prisão por criticar o Islã e o próprio presidente. Abdel Karim Suleiman, que escrevia sob o pseudônimo de “Kareem Amer”, tornou-se, em fevereiro de 2007, quando tinha 22 anos, o primeiro blogueiro egípcio condenado à prisão. Ele foi libertado em novembro de 2010.
Encerro
O Egito é aquele país onde a “Primavera” convive com o incêndio de casas e templos dos cristãos.
Eu até posso crer que haja um jeito democrático de viver a fé islâmica, mas, sinceramente, não acredito que haja um jeito islâmico de viver a democracia.