Aos leitores
Sabem por que não entrei na história da CPI da Nossa Caixa? Porque a minha opinião seria considerada imediatamente suspeita, uma vez que certa matéria publicada na Folha de S. Paulo fez o favor de juntar dois mais dois e encontrar 22, sugerindo que a revista de que fui diretor de Redação foi politicamente beneficiada […]
Mas isso nem é o mais relevante. Já que a acusação é política, a resposta que a desmonta é igualmente política. Certa ou errada, a revista que eu dirigia defendia uma candidatura à Presidência da República: a de José Serra — e nunca, em nenhum momento, chegou a flertar com o nome de Geraldo Alckmin. Eu, pessoalmente, assinando com todas as letras, escrevi, ao longo dos meses, 40 textos defendendo o nome do agora governador de São Paulo como único viável para derrotar Lula — infelizmente, no auge do mensalão, eu tinha claro que o Apedeuta era um candidato difícil de ser batido nas urnas (e os motivos estão expostos no texto que escrevi sobre a pesquisa CNT-Sensus). Podem não gostar de Alckmin, mas idiota ele não é. Não creio que fosse financiar uma publicação que era claramente contrária à sua candidatura.
Podem usar os anúncios da Nossa Caixa em Primeira Leitura para tentar me desqualificar? Ah, claro que podem. Vão conseguir? Não. Isso não me preocupa. A Nossa Caixa, de algum modo, está, sim, ligada à existência daquela revista e daquele site, mas é a seu fechamento. Já contei a história aqui. Quando o nome “Primeira Leitura” foi parar no jornal, tivemos dois contratos de publicidade, já agendados, cancelados. E ficou claro que não teríamos como levar a coisa adiante sem sacrifícios que ninguém estava disposto a fazer. Então decidimos fechar os dois veículos enquanto podíamos arcar com os encargos trabalhistas. Por que um anúncio em Primeira Leitura seria suspeito, mas não um outro, do mesmo banco, num veículo de esquerda ou, para ser genérico, pro-PT? Provem que Alckimin “pagou” Primeira Leitura para que defendêssemos sua candidatura. Mas, primeiro, achem a defesa de sua candidatura na revista ou no site.
Escrevo isso aos meus leitores, não à patrulha vagabunda que decidiu me esculhambar num outro blog aí, que se presta a esse papel. Não consegue vencer no verbo, então opta pela canalhice.
A CPI
Quanto à CPI, repito o que já escrevi no caso da do Apagão Aéreo: é tarefa dos governistas fazer o que estiver a seu alcance, dentro da legalidade, para evitar a instalação de comissões de inquérito. É assim em todo o mundo democrático. O PT faz isso em escala federal; o PSDB faz isso em São Paulo. Quem ganhar fica com o ônus e com o bônus de instalar ou de não instalar a comissão. Parece-me que as chances de o STJ decidir contra a pretensão dos petistas é grande. Nunca vi uma CPI aprovada numa legislatura ser instalada na seguinte. A lei vai dizer.
Mas sempre digo tudo. Não será agora que vou deixar de fazê-lo. O grupo historicamente “CPIzeiro” é o PT. Lembro que, no segundo mandato de FHC, esses moralistas criaram uma lista de 45 (número do PSDB) CPIs. Nada menos. Quem sempre transformou comissão de inquérito num bem em si mesmo foram os petistas. Quem estaria moralmente obrigado (segundo a sua moral) a aceitar qualquer comissão com base da máxima do “quem não deve não teme” é o PT. Então por que o desespero para evitar a do Apagão Aéreo? Não são eles que reclamam das dezenas de comissões que tentaram criar, sem conseguir (de forma legal), em São Paulo? Por que não seguem lá o exemplo que exigem aqui?
Lamento pelos petralhas. Primeira Leitura era a melhor prova de que as acusações contra a revista eram ridículas, fruto da enorme capacidade dos esquerdopatas de tentar destruir a reputação daqueles que não lhes são simpáticos. Estive com Alckmin, que é um homem decente, uma única vez na vida. E discordamos. Porque pessoas decentes também discordam entre si — coisa que um petralha jamais vai entender, já que decentes são os amigos deles, e indecentes, os inimigos. Não é por acaso que o partido se tornou uma lavanderia de reputações que ele próprio ajudou a enodoar. Desde que você faça o exercício da genuflexão, está perdoado.
Eu não faço. Não quero o perdão dessa canalha porque não lhes reconheço legitimidade para ser meus inquisidores. Nem meus nem daqueles que acho decentes. Isso, claro, no que respeita às questões pessoais, íntimas. O mais é com a lei.