Aldeia e ignorância global
Essa “cultura” googliana e fogo!Aí escrevo “A grande literatura, a grande arte, é sempre a literatura de um lugar, do rio de nossa aldeia, como disse Fernando Pessoa.”Aí o animal resolve tirar as duas mãos do chão para pôr no teclado: “Pinta a tua aldeia é do Tolsoi, seu ignorante!Publicar Recusar (Anônimo) 15:55”Tive uma intuição: […]
Aí escrevo “A grande literatura, a grande arte, é sempre a literatura de um lugar, do rio de nossa aldeia, como disse Fernando Pessoa.”
Aí o animal resolve tirar as duas mãos do chão para pôr no teclado: “Pinta a tua aldeia é do Tolsoi, seu ignorante!
Publicar Recusar (Anônimo) 15:55”
Tive uma intuição: “Esse negócio deve estar na Wikipedia”. Batatolina! No verbete “Liev Tostoi”, está lá: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”, o que é uma citação manjadíssima. Mas observem que, no meu texto, falava em “rio”, “aldeia”, né? Então vamos lá: de Fernando Pessoa, na pena do heterônimo Alberto Caeiro:
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.