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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Agora é uma associação gay que reivindica passaporte diplomático. Na origem de tudo isso, está o ódio à democracia

Os passaportes diplomáticos viraram a casa da mãe joana. Depois que Lula os distribuiu até ao papagaio da família, ninguém mais aceita ser cidadão comum. Todos querem privilégios de fidalgo. A última a entrar nessa é a ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais). O grupo enviou um ofício ao ministro Antonio […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 07h03 - Publicado em 18 jan 2013, 04h08

Os passaportes diplomáticos viraram a casa da mãe joana. Depois que Lula os distribuiu até ao papagaio da família, ninguém mais aceita ser cidadão comum. Todos querem privilégios de fidalgo. A última a entrar nessa é a ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais). O grupo enviou um ofício ao ministro Antonio Patriota, das Relações Exteriores, cobrando o que considera ser um “direito”. Direito??? ABGLT… Em breve, a turma terá de incorporar o XYLZ, né? Afinal, se cada gosto sexual merecer uma militância organizada, faltarão letras ao alfabeto em língua portuguesa. Será preciso importar vogais dos franceses e consoantes dos eslavos. Sigo adiante. Os militantes gays resolveram enviar seu pedido depois que o Itamaraty concedeu documentos especiais a mais três líderes evangélicos e suas respectivas mulheres, a saber: Romildo Ribeiro Soares  — o R .R. Soares — e Maria Magdalena Bezerra Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus; Samuel Cássio Ferreira e Keila Campos Costa, da Igreja Evangélica Assembleia de Deus, e Valdemiro Santiago de Oliveira e sua mulher, Franciléia de Castro Gomes de Oliveira, da Igreja Mundial do Poder de Deus.

É claro que os militantes gays estão na sua guerrinha particular com os evangélicos, que são as confissões do cristianismo que mais os enfrentam publicamente. Os católicos — boa parte deles ao menos — são como os tucanos na oposição. Gostam de jogar parados, se é que me entendem…

Toni Reis, presidente da ABGLTXYZ explica à Folha: “Queremos a isonomia. Nem menos nem mais, direitos iguais. Claro que a regra diz que esse passaporte é uma excepcionalidade. Mas, se vão dar para todos os pastores evangélicos, nós também queremos. E queremos com os respectivos cônjuges, assim como os bispos e pastores”. E se não conseguirem? Ele diz que vai apelar ao Ministério Público!

Vejam que triplo salto carpado hermenêutico dá este rapaz. Vamos ver. Embora a Constituição diga que união civil é aquela celebrada entre homem e mulher, o Supremo decidiu reconhecer a união homossexual porque considerou que, não fosse assim, estaria sendo desrespeitado o Artigo 5º da Constituição, justamente o que assegura a igualdade de direitos. É claro que o tribunal forçou a mão, tocado pelo politicamente correto, mas vá lá… Pode-se ainda argumentar, EMBORA A DECISÃO CONTRARIE A LETRA EXPLÍCITA DA CONSTITUIÇÃO, que se fez uma interpretação para garantir direitos de que uma minoria estava excluída.

Observem que Reis, agora, quer outra coisa, que ele chama de “isonomia”. Se, no caso da união civil, ele pedia para uma minoria o que se assegura à maioria, agora ele já propõe uma espécie de “intercâmbio de direitos interminorias”, entenderam? Sim, ele sabe que o passaporte especial é uma “excepcionalidade”… Mas aí raciocina: “Como é que se pode conferir, então, tal excepcionalidade a evangélicos e não a nós?”.

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Com um pouco mais de cultura democrática, em vez de pedir também para os seus o passaporte diplomático, o líder dos gays deveria é criticar a concessão de privilégios. Em vez de embarcar na justificativa vigarista do Itamaraty, ele cobraria é o fim dos privilégios. Entenda-se a alma profunda de Toni Reis: ele quer os direitos de que goza a maioria sem abrir mão dos privilégios que cada vez mais se concedem às minorias.

Segundo a lei, têm direito a passaporte diplomático presidente, vice, ministros de Estado, parlamentares, chefes de missões diplomáticas, ministros dos tribunais superiores e ex-presidentes. O Itamaraty também pode concedê-lo a pessoa  “que está desempenhando ou deverá desempenhar missão ou atividade continuada de especial interesse do país, para cujo exercício necessite da proteção adicional representada pelo passaporte diplomático”.

E os religiosos?
E por que os religiosos entram nessa categoria? Não sei! Os líderes evangélicos reivindicaram o privilégio porque ele é tradicionalmente concedido a cardeais da Igreja Católica. Atenção! Vou fazer aqui o que Toni Reis não fez, porque seu ânimo é o da provocação, não o da construção de uma República de iguais: É PRECISO SUSPENDER O PASSAPORTE DIPLOMÁTICO DE TODOS OS RELIGIOSOS, DOS CARDEAIS CATÓLICOS TAMBÉM! Qual é a justificativa para a sua concessão?

Igrejas, mesmo a Católica, são associações de caráter privado. Não são nem devem ser um braço do estado. Foi com base na “isonomia” que o privilégio passou a ser concedido também a líderes evangélicos. Agora, ela é evocada por Toni Reis porque, segundo o ofício encaminhado pela ABGLTXYZ ao Itamaraty, também a associação “atua internacionalmente, tendo status consultivo junto ao Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas, além de atuar em parceria com diversos órgãos do Governo Federal”…

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Tenham paciência! Daqui a pouco, os chamados líderes dos “movimentos sociais”, os sindicalistas, os presidentes de partidos políticos (mesmo que sem mandato), os intelectuais, os artistas etc. vão reivindicar, “por isonomia”, a concessão da prebenda. Afinal, toda essa gente pode argumentar que desempenha “missão continuada” em benefício do Brasil. E por que não para os jornalistas e seus cônjuges?

Ódio à democracia
São crescentes a intolerância e o ódio à democracia, exercidos, por incrível que pareça, em nome da… democracia. Quando os líderes evangélicos se incomodaram com o passaporte especial dos cardeais, poderiam, sim, ter reivindicado o fim da distinção. Mas preferiram outro caminho: “Nós também queremos; nós também não somos como os brasileiros reles”. Toni Reis, da dita associação gay, poderia, então, ter feito o que os evangélicos não fizeram: “Chega de privilégios inexplicáveis!”. Mas quê… Também ele não quer ser importunado em aeroportos com exigências feitas a homens comuns. Reis, afinal, não é ordinário como todos nós; não é uma pessoa comum: é um ABGLTXYZ! Como pede isonomia com religiosos, entendo que tal condição lhe dá também alcance pastoral…

Nem nas minhas antevisões mais pessimistas, aquelas dos 20 anos, imaginei que chegaria aos 51 tendo de escrever textos como este.

Uma nota para encerrar: quando de esquerda, eu já me incomodava com os nascentes movimentos que eu chamava, então, “particularistas”: de gays, de mulheres, de maconheiros, de negros, de periferia… Considerava, no calor dos meus 17, 18 anos, que aquela gente não entendia como funcionava o mecanismo fundamental de reprodução da desigualdade: a luta de classes. Aprendi alguma coisa ao longo da vida. Hoje vejo que também eles, além dos esquerdistas tradicionais, não entendiam e não entendem o valor da democracia. Arremato observando que Toni Reis não disse em nenhum momento que a concessão de passaportes diplomáticos a líderes religiosos é inexplicável e arbitrária. Se a sua turma também tiver o seu, na sua cabeça, estará assegurada a igualdade.

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É verdade! Estará assegurada a igualdade dos desiguais!

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