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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

A VEJA no jornal “The Guardian”. Ou: “Quando recebo um telefonema da revista, sei que minha vida vai piorar”. Ou ainda: “Que país queremos ser?”

O jornal britânico “The Guardian” desta quinta traz uma reportagem de Tom Phillips sobre a corrupção no Brasil, os esforços para banir os corruptos do serviço público, o trabalho da imprensa e a mobilização da sociedade contra os malfeitores. Na verdade, trata-se de uma reportagem sobre a importância que a revista VEJA tem nesse processo […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 10h21 - Publicado em 27 out 2011, 20h01

O jornal britânico “The Guardian” desta quinta traz uma reportagem de Tom Phillips sobre a corrupção no Brasil, os esforços para banir os corruptos do serviço público, o trabalho da imprensa e a mobilização da sociedade contra os malfeitores. Na verdade, trata-se de uma reportagem sobre a importância que a revista VEJA tem nesse processo de depuração e de aprimoramento da democracia. A íntegra está aqui. O jornal entrevistou Eurípedes Alcântara, diretor de Redação da revista e diretor editorial do “Grupo Veja”.

Segue uma tradução da reportagem, publicada pela VEJA Online:
*

De sua sala na redação instalada no 19º andar, Eurípedes Alcântara desfruta de uma vista espetacular do “novo Brasil”. Helicópteros atravessam o céu, carros novos abrem caminho pela cidade, arranha-céus e shoppings de luxo brotam no cenário urbano.

Mas Alcântara, um dos jornalistas mais poderosos do país, também não perde de vista o Brasil velho. Um país de negociatas, rinhas e corrupção endêmica que custam bilhões a cada ano e continuam a retardar a ascensão desse gigante sul-americano.

Como diretor de redação da influente e polarizadora revista VEJA, Alcântara acredita que é sua tarefa por um fim à baixaria. “É um choque de civilizações. Que tipo de país queremos ser?”, diz ele.

“A maioria das pessoas joga segundo as regras, trabalha de sol a sol e paga os impostos em dia. Mas há um grupo que vive se locupletando do estado, fazendo negócios com aqueles que têm as chaves do cofre. Combater a corrupção é nossa missão.”

O ano de 2011 vai entrar para a história brasileira como aquele em que Dilma Rousseff, a primeira mulher presidente, subiu ao poder. Mas talvez ele também seja lembrado como aquele em que a frustração com a corrupção política sem peias finalmente transbordou.

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Desde que Rousseff assumiu, em Janeiro, cinco ministros caíram por causa de escândalos éticos ou de corrupção – sendo o último deles Orlando Silva, ministro do Esporte que se demitiu na última quarta-feira, depois de VEJA denunciar seu envolvimento numa tramoia de 14 milhões de libras.

Protestos em todo o país, ainda que tímidos se comparados com os do Chile ou do Oriente Médio, levaram milhares às ruas, exigindo um fim à pilhagem do dinheiro público

Com a palavra corrupção na boca de todos, a imprensa brasileira desempenhou um papel fundamental na descoberta de malfeitos de alguns dos políticos mais poderosos do país. Em junho, o poderoso ministro da Casa Civil de Rousseff, Antonio Palocci, se viu obrigado a renunciar depois que o jornal Folha de S. Paulo revelou que sua fortuna pessoal havia se multiplicado por 20 em apenas quatro anos.

Três meses mais tarde, o mesmo jornal ajudou a destronar o ministro do Turismo Pedro Novais, que já havia sido acusado de usar dinheiro público para bancar uma farra em um motel chamado The Caribbean. A conta de Novais no motel – onde quartos equipados com piscinas, saunas e camas redondas custam 35 libras por três horas – ficou em 767 libras.

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Reportagens de VEJA, enquanto isso, derrubaram o ministro da Agricultura Wagner Rossi, acusado de malversar dinheiro público, o ministro dos Transportes Alfredo Nascimento – com o relato de um esquema de propinas em sua pasta – e o ministro do Esporte nesta semana.

“Os políticos dizem: ‘Quando recebo um telefonema de VEJA é sinal que a minha vida vai piorar’”, diz Alcântara com um sorriso logo interrompido. “Mas isso não me dá prazer… Não vejo isso como uma vitória.”

“Não se trata de uma campanha… mas é uma obsessão”, acrescentou o editor de 55 anos, cuja revista mais recente trouxe na capa a manchete Dez Motivos Para se Indignar com a Corrupção. A reportagem observa que os 85 bilhões de reais de dinheiro público surrupiados a cada ano poderiam erradicar a pobreza, construir 1,5 milhão de casas – ou comprar 18 milhões de bolsas de grife.

Alcântara – cuja revista tem circulação de 1,2 milhão de exemplares e algo entre 6 e 10 milhões de leitores – admite que a maioria dos furos de VEJA sobre corrupção tem origem em “dicas” de pessoas que, com frequência, estão elas mesmas implicadas no submundo da política brasileira.

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“Não temos uma Delta Force. Temos antenas”, ele disse, referindo-se às redações da revista em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, a capitas do país, onde um total de 78 repórteres devem manter seus olhos e ouvidos atentos a sinais de negociatas, estejam cobrindo ciências, transportes ou arte.

Separar a política de VEJA de sua cruzada anticorrupção é uma tarefa complexa.

A revista é detestada pela esquerda brasileira, que afirma que ela tem um viés inerentemente contrário ao PT, que está no poder, e seus aliados, prestando atenção excessiva aos pecadilhos dos políticos dessas agremiações, enquanto ignora os deslizes de seus amigos.

Luiz Inácio Lula da Silva, o primeiro presidente brasileiro de origem operária, teve um relacionamento particularmente turbulento com a revista em seus oito anos de mandato. “Vamos ser francos, alguns jornalistas dE VEJA merecem um Nobel por irresponsabilidade”, disse Lula em 2006, depois de uma reportagem afirmar que ele e seus aliados tinham contas secretas em paraísos fiscais. “VEJA não publica acusações. Ela publica mentiras.”

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Alcântara reserva termos mais simpáticos para Rousseff, a sucessora de Lula, que deu início ao que se tem chamado de “faxina”, demitindo seis ministros em dez meses no poder.

“Parece-me que ela é muito mais intolerante com a corrupção do que Lula”, diz ele. “Dilma, nas palavras e nos atos, mostrou muito menos tolerância e muito mais compreensão da desgraça que é a corrupção nesta país. Existe agora uma percepção muito forte, e creio que aqui podemos incluir a presidente, de que esse tipo de extorsão é inaceitável.”

A reação de Rousseff à corrupção e a cobertura constante da imprensa fomentou uma série de protestos pelo Brasil.

“Como pode um país tão rico e grande ter níveis semelhantes de pobreza? Uma das explicações, sem dúvida, é a corrupção endêmica e histórica”, disse Antônio Carlos Costa, diretor da ong antiviolência Rio de Paz, em um evento recente que reuniu 2500 pessoas.

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“Falamos de algo que atravessa todas as esferas de poder. Vai dos narcotraficantes ao Congresso. Polui tudo, solapa nossas relações. Só é possível combater esse problema com dedicação e perseverança.”

Natalia Lebeis, 23 anos, também se uniu ao protesto – vestida de palhaço.

“Dizem que os brasileiros só saem às ruas para assistir ao futebol ou ao carnaval”, diz ela. “Nós somos a voz da nação. Chegou a hora de as pessoas mostrarem seu rosto e protestarem contra a corrupção e a impunidade.”

Alcântara, que já foi correspondente em Nova York e acaba de assinar uma entrevista de três páginas com o cantor Neil Youg, lembrou-se de Paul McCartney para capturar seu sentimento sobre as chances da guerra contra a corrupção ser vencida no Brasil.

“É um cabo-de-guerra”, disse ele, referindo-se à canção de 1982 do ex-Beatle. “Um cabo-de-guerra entre aqueles que desejam nos arrastar de volta para o século XIX e aqueles que tentam nos levar ao século XXI. Sou um otimista – acredito que o século XXI vai vencer.”

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