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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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A morte do coronel, a morte do bailarino e a morte do jornalismo. Ou: Será que a ditadura não mandou prender uma legião de anjos que havia lido o manual de guerrilha do Marighella?

Tudo indica que o coronel Paulo Malhães, aquele que confessou ter torturado pessoas durante o regime militar, tenha morrido de ataque cardíaco. Falarei a respeito daqui a pouco. Mas tenho algumas considerações prévias. Obsessão emburrece. Sempre. Quando veio a público a notícia da morte do coronel, escrevi algo curtinho porque processei todas as coordenadas, e […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 03h59 - Publicado em 26 abr 2014, 19h42

Tudo indica que o coronel Paulo Malhães, aquele que confessou ter torturado pessoas durante o regime militar, tenha morrido de ataque cardíaco. Falarei a respeito daqui a pouco. Mas tenho algumas considerações prévias. Obsessão emburrece. Sempre. Quando veio a público a notícia da morte do coronel, escrevi algo curtinho porque processei todas as coordenadas, e a hipótese óbvia me pareceu fantasiosa. Escrevi então:

TRECHO TEXTO CORONEL

Voltei ao assunto nesta manhã e, movido pela pena de um certo sarcasmo lógico, afirmei que mais sentido faria que remanescentes da extrema-esquerda o tivessem matado, não da extrema-direita. Razão óbvia: aqueles estão organizados — alguns de seus próceres ou descendentes ideológicos estão no poder, afinal. Já o mais jovem membro do um eventual esquadrão de torturadores vingadores deve andar pelos 80 anos — o coronel tinha 76. Mas, como está lá evidente, escrevi que não acreditava nem numa coisa nem noutra. Só em crime comum.

É claro que tive de aguentar a malta de cretinos, afirmando que eu estaria tentando esconder alguma coisa. É mesmo? Por quê? Em nome de quê? Em defesa do regime que me perseguiu? Vão se catar!

Há muito tempo já, determinados temas não podem mais ser submetidos a um tratamento apenas jornalístico. Perca as esperanças de haver alguma serenidade e objetividade na cobertura da morte do dançarino Douglas Rafael da Silva, por exemplo. A hipótese — plausível, mas hipótese ainda — de que tenha sido morto por policiais serve para encobrir fatos óbvios, que compõem a equação: o narcotráfico preparou um happening durante o seu enterro, pedindo o fim das UPPs no morro; ele próprio, há três meses, expressou, em termos muito característicos, o seu lamento pela morte do traficante “Cachorrão”; o confronto com a polícia no dia do enterro contou com a ativa participação de black blocs, dos “militantes de sempre” e de agentes do tráfico.

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Se foi mesmo a polícia, isso muda as responsabilidades ou as culpas? Não! Cadeia para os assassinos, uniformizados ou não, depois da devida apuração. Mas são fatos. Por que são omitidos dos telespectadores, dos leitores, dos ouvintes, dos internautas? Eles não têm o direito de saber e formar seu próprio juízo? Está em curso um processo de seleção de notícias para não provocar a fúria dos milicianos das redes sociais — aqueles asquerosos, muitos a soldo, que ficam patrulhando os meios de comunicação.

O mesmo se deu no caso de Paulo Malhães. Nem mesmo nos ocupamos de perguntar quem, afinal, havia atestado a morte por sufocamento. Alguém o encontrou de bruços, parece, com o rosto posto num travesseiro, e concluiu: “Foi asfixiado”. Agora, o guia de sepultamento traz como provável causa da morte um ataque cardíaco: edema pulmonar, isquemia de miocárdio e miocardiopatia hipertrófica.

coronel causa mortis 

Vejam bem: um guia de sepultamento não vale por uma autópsia. Mas um médico — a menos que fizesse parte, também, da quadrilha de assassinos, né? — não atestaria doenças degenerativas como causa da morte se fosse evidente a hipótese de assassinato por asfixia, o que deixa marcas. Mas fazer o quê?

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Vivemos dias em que a mãe do bailarino assassinado ganha o status de perita criminal, o mesmo acontecendo com familiares de possíveis vítimas do coronel Paulo Malhães. Vivemos dias em que se buscam menos os fatos do que reconstruir uma narrativa do passado que esteja adequada aos valores influentes. Ainda voltarei a esse tema: Maria Rita Kehl, da Comissão da Verdade, por exemplo, parece não se conformar com o fato de que os mortos da ditadura sejam menos de 500. Para que a “narrativa ideológica” faça sentido, é preciso falar em milhares. Como não há fatos que justifiquem a sua tese ideológica, ela decidiu agora investir na hipótese de que sete mil índios tenham sido massacrados pela ditadura. Com base em quê? Ora, em relatos de alguns deles, escolhidos a dedo — jamais atestados por ninguém. A julgar pela fala de alguns deles, fica parecendo que os militares brasileiros jogaram napalm na selva. Mas deixo isso para outro post.

NÃO! NÃO ESTOU DESCARTANDO QUE O CORONEL POSSA TER SIDO ASSASSINADO. NÃO SOU LEGISTA. MAS O DOUTOR QUE ASSINA O GUIA DE SEPULTAMENTO É. Sim, nas redes sociais já começou a conversa mole de que também isso está sendo falsificado.

Se, amanhã, algum lunático afirmar que os militares, durante a ditadura, mandaram prender uma legião de anjos militantes, vinda do céu, para organizar no Brasil a luta de libertação do povo, com base do Minimanual da Guerrilha, de Carlos Marighella, muita gente vai acreditar. Afinal de contas, não há idiotas que sustentam até hoje que o próprio Marighella era um anjo? Ou, então, o outro Carlos, o Lamarca? Até de “poetas” eles já foram chamados. Malhães, porque torturava pessoas, era um bandido. E, para mim, essa designação lhe cai bem. Quanto aos outros dois, seja esmagando crânios de pessoas já rendidas, seja explodindo pessoas, viraram santos.

Mentir em pequenas ou em grandes proporções e criar marolas ideológicas são tarefas próprias da militância política. O jornalismo não tem o direito de fazer nem uma coisa nem outra. Ou passa a ser, também, militância política.

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