A lógica é uma boa forma de ser humanista
Uma das armadilhas do pensamento consiste em transformar o evento episódico numa tendência. A outra é confundir circunstância com causalidade. Sobre ainda a questão das armas de fogo, escreve-me um leitor: Você não provou nada Reinaldo. O que sua “lógica” diria sobre aquelas crianças que acham a arma que o pai deixou “muito bem guardada” […]
Você não provou nada Reinaldo. O que sua “lógica” diria sobre aquelas crianças que acham a arma que o pai deixou “muito bem guardada” em casa e matam o amiguinho ou o irmão achando que estão brincando de faroeste? Esses pequenos travessos não devem ter caráter não é mesmo? Arma de fogo é sinônimo de tragédia caro Reinaldo!
Publicar Recusar (Anônimo) 17:47
Comento
Nunca encostei a mão numa arma de fogo. Nem pretendo. Só vi revólver de perto na condição de assaltado — infelizmente, duas vezes. Numa delas, estava num restaurante com Dona Reinalda. Ainda namorávamos. Ela viu a turma invadindo o local antes de mim. Baixinho, disse: “Estamos sendo assaltados. Pelo amor de Deus, não reaja”. É que tenho o pavio bastante inflamável, ela sabe. Depois do susto, fiz uma blague: “Gostei muito do seu ‘não reaja’. Entendi a fantasia sexual secreta das mulheres, hehe…” Ela detestou a piada. Adiante.
Não sei quantas crianças morrem vítimas de armas de fogo. Mas não deve ser superior ao das que caem da laje soltando pipa. E nem por isso o estado deve proibir lajes e pipas.
Acho que as pessoas não devem ter armas. Vamos fazer o seguinte: o estado brasileiro se organiza, confisca todas as armas ilegais que circulam por aí, oferece uma segurança digna do nome aos cidadãos e mete na cadeia os bandidos, que terão de cumprir a pena.
Aí topo discutir a proibição da venda de armas legais. Fazê-lo antes de se proibirem as armas ilegais (por mais que a formulação seja, em si, escandalosa) é só um idiotismo politicamente correto. E, como todas as formulações do gênero, só agravaria os problemas que se propunha a resolver.
Ademais, amigo que mandou o comentário, considere que, na situação hipotética de que você trata, a falha de caráter, de fato, não está na criança, mas em que deixou uma arma a seu alcance.
Vá por mim: a lógica é uma forma de ser humanista. E costuma ser superior à tentação de ser apenas “bonzinho”.