A falácia petralha: aqui estão todas as perguntas feitas aos três candidatos. Comparem!
A entrevista de José Serra ao Jornal Nacional nem havia acabado ainda, e a equipe de Dilma Rousseff que cuida da Internet — aquele coroa saído de Woodstock à frente — já sabia que o tucano tinha tido um desempenho exemplar. E já ocupava o Twitter com a falácia de que William Bonner e Fátima […]
A entrevista de José Serra ao Jornal Nacional nem havia acabado ainda, e a equipe de Dilma Rousseff que cuida da Internet — aquele coroa saído de Woodstock à frente — já sabia que o tucano tinha tido um desempenho exemplar. E já ocupava o Twitter com a falácia de que William Bonner e Fátima Bernardes haviam “pegado leve” com ele. Trata-se de uma mentira. Mentira evidente e com contestação documentada. Dilma, sim, foi beneficiada pela ausência de uma pergunta: não teve de falar sobre o mensalão. Por quê? Não sei.
Abaixo, reproduzo apenas as perguntas feitas pelos entrevistadores. Cortei as intervenções que são pedaços de frases. Leiam. Digam aí onde estão as facilidades para Serra. Arrisco-me a dizer, e trato disso em outro post, que a patrulha petralha acabou, isto sim, contaminando um tanto o JN.
Cadê a tal “agressividade” de Bonner e Fátima com a petista? Em que questão teriam sido mais duros com ela do que com Serra ou Marina? Onde? Apontem! Dilma teve, isto sim, aos menos duas bolas levantadas na rede: 1) a sua inexperiência eleitoral associada, no entanto, à intimidade com Lula, o que ela soube explorar muito bem; 2) o seu temperamento dito difícil, o que deu a ela a chance de negar e tal, dizendo-se apenas exigente.
Serra soube usar melhor o tempo, com respostas mais objetivas. E expressou-se com correção e clareza. Os petralhas estão tentando transformar o seu excelente desempenho numa suposta conspirata do Jornal Nacional em favor do tucano. Seguem as perguntas feitas aos três. Elas demonstram por que estão mentindo. Diria mais: deveriam estar orgulhosos. Ao contrário do que dizem, acho que a sua patrulha funcionou. Na voz de Fátima e William, eu ouvi boa parte das perguntas que os críticos gostariam de ter feito a Serra. Mas fica para o post abaixo deste.
PERGUNTAS FEITAS A SERRA
1 – William Bonner: Candidato, desde o início desta campanha, o senhor tem procurado evitar críticas ao presidente Lula. O senhor acha que… E em alguns casos fez até elogios a ele… o senhor acha que essa é a postura que o eleitor espera de um candidato da oposição?
2 – William Bonner: Entendo. Agora, candidato, o senhor avalia o risco que o senhor corre de essa sua postura ser interpretada como um receio de ter que enfrentar a popularidade alta do presidente Lula?
3 – Fátima Bernardes: O senhor tem insistido muito na tecla de que o eleitor deve procurar comparar as biografias dos candidatos que estarão concorrendo, que estão concorrendo nesta eleição. O senhor evita uma comparação de governos. Por exemplo, por quê, entre o governo atual e o governo anterior?
4 – Fátima Bernardes: Mas, por exemplo, avaliar, analisar fracassos e sucessos não ajuda o eleitor na hora de ele decidir pelo voto dele?
5 – William Bonner: Uma questão política. Nesta eleição, existem contradições muito claras nas alianças formadas pelos dois partidos que têm polarizado as eleições presidenciais brasileiras aí nos últimos 16 anos, né? O PT se aliou a desafetos históricos. O seu partido, o PSDB, está ao lado do PTB, um partido envolvido no escândalo do mensalão petista, no escândalo que inclusive foi investigado e foi condenado de forma muito veemente pelo seu partido, o PSDB. Então, a pergunta é a seguinte: o PSDB errou lá atrás quando condenou o PTB ou está errando agora quando se alia a esse partido?
6 – William Bonner: Os nomes de petebistas, todos, uma lista muito vasta, começando pelo Maurício Marinho.
7 – William Bonner: Mas não há nenhum constrangimento para o senhor pelo fato de esta aliança por parte do seu partido, o PSDB, ter sido assinada com o PTB pelas mãos do presidente do partido que teve o mandato cassado inclusive com votos de políticos do seu partido, o PSDB? Isso não provoca nenhum tipo de constrangimento?
8 – Fátima Bernardes: Candidato, nesta eleição, quer dizer, o senhor destaca muito a sua experiência política. Mas na hora da escolha do seu vice, houve um certo, um certo conflito com o DEM exatamente porque houve uma demora para o aparecimento desse nome. Muitos dos seus críticos atribuem essa demora ao seu perfil centralizador. O nome do deputado Índio da Costa apareceu 18 dias depois da sua oficialização, da convenção que oficializou a sua candidatura. É… O senhor considera que o deputado, em primeiro mandato, está pronto para ser o vice-presidente, uma função tão importante?
9 – Fátima Bernardes: Eu falei centralizador porque até no seu discurso de despedida do governo de São Paulo, o senhor mesmo explicou sobre essa fama de centralizador.
10 – Fátima Bernardes: Mas a experiência dele é municipal, na verdade, não é? Ele teve três mandatos de vereador, o senhor acha que isso o qualifica?
11 – William Bonner: Candidato, eu gostaria de abordar um pouquinho também da sua passagem pelo governo de São Paulo. O senhor foi governo em São Paulo durante quatro anos, seu partido está no poder em São Paulo há 16 anos. Então é razoável que a gente avalie aqui algumas dessas ações. A primeira que eu colocaria em questão aqui é um hábito que o senhor mesmo tem de criticar o modelo de concessão das estradas federais. De outro lado, os usuários, muitos usuários das estradas estaduais de São Paulo que estão sob regime de concessão, se queixam muito do preço e da frequência com que são obrigados a parar para pedágio, quer dizer, uma quantidade de praças de pedágio que eles consideram excessiva. Pergunta: o senhor pretende levar para o Brasil inteiro esse modelo de concessão de estradas estaduais de São Paulo?
12 – William Bonner: Mas a que o senhor fez motivou críticas quanto ao preço. Então a questão que se impõe é a seguinte, candidato: não existe um meio termo? Ou o cidadão brasileiro tem uma estrada boa e cara ou ele tem uma estrada ruim e barata. Não tem um meio termo nessa história?
13 – William Bonner: Mas esse modelo vai ser exportado para as estradas federais?
14 -Fátima Bernardes – Não, candidato. É que como nós temos um tempo, eu queria dar ao senhor os 30 segundos para o encerramento, para o senhor se dirigir ao…
PERGUNTAS FEITAS A MARINA
1 – Fátima Bernardes: Bom. E o nosso tempo de 12 minutos dessa entrevista começa a ser contado a partir de agora. Candidata, a sua atuação na vida pública, como ministra, como senadora, foi especificamente voltada para a área do meio ambiente. A senhora não tem uma experiência administrativa em nenhuma outra área, em nenhum outro setor. Como é que a senhora pretende convencer o eleitor de que a sua candidatura é para valer e que ela não é apenas uma candidatura para marcar posição nessa questão do meio ambiente?
2 – Fátima Bernardes: Quer dizer que a senhora acha que essa questão do meio ambiente passa por todos esses outros setores?
3 – William Bonner: Agora, candidata, perdoe, a senhora é candidata do Partido Verde e, até este momento, apresenta-se na eleição sem o apoio de nenhum outro partido. Se a senhora não conseguiu apoio para formar uma aliança agora antes da eleição, como é que a senhora vai formar uma base de sustentação para governar o Brasil depois, dentro do Congresso Nacional?
4 – William Bonner: A questão que eu ia colocar é a seguinte: se a senhora não conseguiu formar essa base de apoio agora, depois da eleição, uma base de apoio que se forme depois da eleição, não tem uma tendência maior ao tal fisiologismo que a senhora mesmo está criticando?
5 – Fátima Bernardes: A senhora olhando para o seu partido, a senhora considera que o PV, ele tem quadros, olhando para os seus colegas, para governar o Brasil?
6 – Fátima Bernardes: Não, eu estou perguntando porque ainda não há um acordo estabelecendo outras alianças.
7 – William Bonner: Candidata, vamos falar então… A senhora mencionou a questão, o papel do partido político. A senhora declarou já em algumas entrevistas que deixou o governo Lula e deixou o PT porque discordava da maneira como era conduzida a política ambiental no governo. No entanto, se nós voltarmos no tempo até aquele período do escândalo do mensalão, a senhora não veio a público para fazer uma condenação veemente daquele desvio moral de alguns integrantes do PT. A pergunta que eu lhe faço é a seguinte: o seu silêncio naquela ocasião não pode ser interpretado de uma certa maneira como uma conivência com aqueles desmandos?
8 – William Bonner: No entanto, o seu desconforto, vamos dizer assim, o seu desconforto ético com o mensalão não foi suficientemente forte para levá-la a deixar o cargo de ministra.
9 – William Bonner: Porque a pergunta que eu lhe dirigia era sobre um momento muito especifico da história e eu queria que a senhora tratasse dessa questão polêmica e não fosse para outro assunto. Eu estou consumindo 30 segundos da entrevista para fazer esse esclarecimento e eu lhe devolverei para a entrevista. Eu só queria que a senhora esclarecesse para mim qual foi e de que maneira a senhora viu a saída de alguns colegas seus então de PT, alguns, inclusive, fundadores do partido, que deixaram o partido indignados na época do mensalão, chorando. Como a senhora viu a ação deles, que não foi a ação que a senhora teve naquela ocasião?
10- Fátima Bernardes: Candidata, vamos abordar, então, um outro tema. Muita gente do governo e fora dele se queixava de que, durante a sua gestão à frente do Ministério do Meio Ambiente, a liberação de licenças ambientais, elas estavam muito lentas, e que isso, licenças ambientais para obras de infraestrutura, e que isso atrapalhava o desenvolvimento. Como é que a senhora enxergava essas críticas de que essa demora possa ter atrasado essas obras?
11 – Fátima Bernardes: Quer dizer, nesse caso, a senhora está dizendo que no caso da senhora estando no governo, essa lentidão, ela, por exemplo, não vai provocar esse atraso ainda mais ou agravar ainda mais esses gargalos que a senhora citou, econômicos, e provocar, por exemplo, no setor energético, um risco de um novo apagão por demora na liberação dessas licenças?
12 – William Bonner: Candidata, a senhora tem 30 segundos para se dirigir ao eleitor e pedir a ele o seu voto, dando a ele a última mensagem. Por favor.
PERGUNTAS FEITAS A DILMA
1 – William Bonner: Candidata, o seu nome como candidata do PT à Presidência foi indicado diretamente pelo presidente Lula, ele não esconde isso de ninguém. Algumas pessoas criticaram, disseram que foi uma medida autoritária, por não ter ouvido as bases do PT. Por outro lado, a senhora não tem experiência eleitoral nenhuma até este momento. A senhora se considera preparada para governar o Brasil longe do presidente Lula?
2 – William Bonner: Mas a sua relação com o presidente Lula, a senhora faz questão de dizer que é muito afinada com ele. Junto a isso, o fato de a senhora não ter experiência e ter tido o nome indicado diretamente por ele, de alguma maneira a senhora acha que isso poderia fazer com que o eleitor a enxergasse ou enxergasse o presidente Lula atualmente como um tutor de seu governo, caso eleita?
3 – Fátima Bernardes: A senhora falou de temperamento. Alguns críticos, muitos críticos e alguns até aliados falam que a senhora tem um temperamento difícil. O que a gente espera de um presidente é que ele, entre outras coisas, seja capaz de fazer alianças, de negociar, ter habilidade política para fazer acordos. A senhora de que forma pretende que esse temperamento que dizem ser duro e difícil não interfira no seu governo caso eleita?
4 – Fátima Bernardes: Agora, no caso, por exemplo, a senhora falou de não haver cassetete, mas talvez seja a forma de a senhora se comportar. O próprio presidente Lula, este ano, em discurso durante uma cerimônia de posse de ministros, ele chegou a dizer que achava até natural haver queixas contra a senhora, mas que ele recebeu na sala dele várias pessoas, colegas, ex-ministros, ministros, que iam lá se queixar que a senhora maltratava eles.
5 – Fátima Bernardes: Como mãe eu entendo, mas, por exemplo, como presidente não tem uma hora que tem que ter facilidade de negociar, por exemplo, futuramente no Congresso, futuramente com líderes mundiais, ter um jogo de cintura ai?
6 – William Bonner: O presidente falou em maltratar, não é, candidata?
7 – William Bonner: Não, ele disse isso. A senhora me perdoe, mas o discurso dele está disponível. Ele disse assim: as pessoas diziam que foram maltratadas pela senhora. Mas a gente também não precisa ficar nessa questão até o fim da entrevista, têm outros temas.
8- William Bonner: A senhora tem agora nessa candidatura, além do apoio do presidente, a senhora também tem alianças, né?, formadas para essa sua candidatura. Por exemplo, a do deputado Jader Barbalho, por exemplo, a do senador Renan Calheiros, por exemplo, da família Sarney. A senhora tem o apoio do ex-presidente Fernando Collor. São todas figuras da política brasileira que, ao longo de muitos anos, o PT, o seu partido, criticou severamente. Eram considerados como oligarcas pelo PT. Onde foi que o PT errou, ou melhor, quando foi que ele errou: ele errou quando fez aquelas críticas todas ou está errando agora, quando botou todo mundo debaixo do mesmo guarda-chuva?
9 – William Bonner: Vamos lá. Candidata, vamos aproveitar o tempo da melhor maneira. O PT tem hoje já nas costas oito anos de governo. Então é razoável que a gente tente abordar aqui alguma das realizações. Vamos discutir um pouco o desempenho do governo em algumas áreas, começando pela economia. O governo festeja, comemora muito melhoras da área econômica. No entanto, o que a gente observa, é que quando se compara o crescimento do Brasil com países vizinhos, como Uruguai, Argentina, Bolívia, e também com aqueles pares dos Brics, os chamados países emergentes, como China, Índia, Rússia, o crescimento do Brasil tem sido sempre menor do que o de todos eles. Por quê?
10 – William Bonner: Mais duro do que no Uruguai e na Bolívia, candidata?
11 – William Bonner: Correto, candidata. Mas a Rússia. A Rússia também teve dificuldades e é um país enorme…
12 – Fátima Bernardes: Candidata, vamos falar um pouquinho de outro problema, que é o saneamento. Segundo dados do IBGE, o saneamento no Brasil passou de 46,4% para 53,2% no governo Lula, um aumento pequeno, de 1 ponto percentual mais ou menos, ao ano. Por que o resultado fraco numa área que é muito importante para a população?
13- Fátima Bernardes: Mas, candidata, esses são dados de seis anos. Quer dizer, esse resultado que a senhora está falando… vai aparecer de um ano e meio para cá?
14 – Fátima Bernardes: A gente gostaria agora que a senhora, em 30 segundos, desse uma mensagem ao eleitor, se despedindo então da sua participação no Jornal Nacional.