A democracia deles: Brasil pode ser recordista mundial em ações contra jornalistas
Na Folha desta sexta. Volto depois: Levantamento sobre a situação da liberdade de expressão no Brasil realizado pela ONG “Article 19″, com sede em Londres, revela que o elevado número de ações de indenização contra jornalistas e veículos de comunicação no país pode configurar “um recorde mundial”. Missão enviada em agosto ao Brasil registrou que […]
Levantamento sobre a situação da liberdade de expressão no Brasil realizado pela ONG “Article 19″, com sede em Londres, revela que o elevado número de ações de indenização contra jornalistas e veículos de comunicação no país pode configurar “um recorde mundial”. Missão enviada em agosto ao Brasil registrou que “advogados e jornalistas estimam que hoje exista cerca de uma indenização para cada jornalista trabalhando nos cinco principais grupos de comunicação” do país (Folha, Organizações Globo, Grupo Abril, “O Estado de S. Paulo” e Editora Três). “Se provada correta, tal proporção configuraria um recorde mundial”, diz o relatório. A ONG baseou-se em pesquisa do site “Consultor Jurídico” a partir de consulta a advogados de empresas de comunicação e rastreamento de processos em tribunais. Até o mês de abril deste ano, segundo o site, existiam 3.133 processos num universo de 3.327 jornalistas nesses veículos.
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É a democracia dos bacanas, fruto do clima de pega-pra-capar com o qual o petismo tenta silenciar a mídia. Qual o caminho que os valentes escolheram? A judicialização do embate democrático, ainda que, muitas vezes, as ações sejam absurdas. Mas, claro, elas tomam nosso tempo, nosso dinheiro, nossa paciência — mesmo quando vencemos. Eu já fui acionado cinco vezes. Ganhei dois processos, sem mais chance para recurso, e três outras estão em curso. É uma aporrinhação.
A mídia tem de estar acima da Justiça? É claro que não. Quem se sente ofendido ou com seu direito agredido tem o direito de a ela recorrer? Claro que sim. Mas acreditem: é formidável a quantidade de processos movidos por larápios, acrescentando à sem-vergonhice original que os fez protagonistas da notícia a pura e simples má-fé. Ninguém é tão rápido em recorrer à Justiça para defender a sua “honra” quanto a pessoa sem honra nenhuma.
Além da velha safadeza, há também um ingrediente novo na praça — novo no Brasil, onde tudo chega meio tarde: a patrulha politicamente correta. Sempre há uma minoria organizada enchendo o seu saco, como afirmei no vídeo que gravei ao lado para a VEJA.com, porque se sente agravada até por uma piada. Evo Morales diz que a Bolívia deu o Acre para o Brasil em troca de um cavalo velho (é mentira, claro)? Vai Diogo Mainardi e brinca: devolve o cavalo e pega de volta o Acre. Pronto: lá vem um pequeno exército de acreanos para protestar. No que me diz respeito, estou dando de presente títulos que conferem aos não-paulistas a licença para esculhambar São Paulo. Mas exijo o meu direito de falar mal do Brasil, dos políticos brasileiros, da minha própria impaciência, até dos coleguinhas…
Essa mania de levar tudo para a Justiça é só mais uma demonstração de intolerância. E, é evidente, constitui mais uma maneira de tentar tolher o debate público. Farei como Renan Calheiros, agora, que só se trata por “nós”: ainda “voltaremos” a este assunto.