A democracia brasileira tem uma falha grave: PUBLICA AS MINHAS OPINIÕES. Ou: Bem-aventurados os covardes porque deles será o reino dos… covardes!
“Eles” já não podiam suportar que eu tivesse um blog hospedado no site da maior revista do país. Era demais! Aí ficou evidente que o tal blog era a página de política mais acessada do país. E isso lhes parecia terrivelmente injusto. “Quem é esse? Em que prédio da Vieira Souto ele mora?” Alguém ainda […]
“Eles” já não podiam suportar que eu tivesse um blog hospedado no site da maior revista do país. Era demais! Aí ficou evidente que o tal blog era a página de política mais acessada do país. E isso lhes parecia terrivelmente injusto. “Quem é esse? Em que prédio da Vieira Souto ele mora?” Alguém ainda foi prudente: “Fica, ao menos, na Delfim Moreira?”. Não fica! Os ventos que me chegam de “áfricas utópicas” (né, Caetano?) vêm de outras latitudes. Venho de um lugar onde as tardinhas não caem e os barquinhos não vão. Venho de um lugar sem mar. Ah… No plural, as coisas não rimam.
E, quando me dá na telha, eu meto no plural as fórmulas que só dão certo na singularidade da Zona Sul do Rio. “Eles” sabem do que falo. E, às vezes, falo por parábolas porque me apiedo dos covardes. Mas os covardes também sabem que não fujo da luta. Os covardes sabem que podem contar comigo porque eu jamais conto com o apoio ou a solidariedade de covardes. Alguém já me viu pedir??? Não careço disso. Sei o que penso. Penso o que penso. Vivo bem pensando o que penso. Sobretudo, vivo bem escrevendo o que penso.
Aí eu desafino o coro dos contentes, dos “progressistas” com vista para o mar. “Quem é esse caipira que fala ‘porrrrta’”? Impossível reproduzir o som do interior de São Paulo, da carnadura concreta do melaço de cana sem João Cabral, que este é lá de Pernambuco. São Paulo nem tem poesia caipira em antologia… Eu sou Dois Córregos. Eu sou Mococa. Eu sou Jaú. Eu sou Piracicaba. Eu sou Presidente Prudente. Eu sou Ribeirão Preto. Eu sou Barretos. Eu sou a música caipira que foi fazer metáforas no Paraná e no Mato Grosso, também o do Sul, e em Goiás. Eu sou o PIB que não pede licença. Eu sou daqueles lugares, seu Caetano, que não veem quem sobe ou desce a rampa. “Não sou rampeiro”, disse Ulysses. Não peço desculpas.
Quando este cara, eu mesmo, passou a ser colunista também do maior jornal do país, a Folha… Caramba! A maior revista do país já era demais pra ele! Aí eles decidiram que era preciso fazer alguma coisa. Não dá! Maior revista e maior jornal do país? Nem pensar!!! E se vier a maior rádio do país? Pois é… E se vier?
Fiquem tranquilos! Na maior emissora de TV do país, ao menos, eu não entro nem que seja disfarçado de cachorro, como disse Bruno Tolentino. Não entraria nem que fosse (vario o subjuntivo, para os puristas da gramática) disfarçado de beagle. Beagles têm direito a “outro lado”. Eu não! Antes que eu diga “oi”, a “polícia política” do centro — que, claro!, não é nem de esquerda nem de direita — vai tentar me fulminar.
Eu não pisco para black blocs.
Eu não tenho medo de black blocs.
Eu não receio o cocô de cavalo dos black blocs.
Eu não apoiei a ditadura.
Eu apanhei da ditadura.
Eu sou um fichado da ditadura.
Eu não peço desculpas.
Miriam Leitão, jornalista de todos os produtos das Organizações Globo, não gosta de mim. Ela escreveu um artigo no jornal “O Globo” deste domingo (post abaixo) explicando por que a Folha fez muito mal em contratar a minha coluna. Ela também tenta, ainda que de forma oblíqua, explicar à VEJA por que não é uma boa ideia manter o meu blog. Nada disso, claro!, é explicitado. Tudo é dito, assim, à socapa, covardemente. A pluralidade no Brasil tem um defeito grave, uma falha inaceitável: publica as minhas opiniões. A democracia brasileira será muito melhor, mais plural, quando eu não puder escrever. Com isso concordam a esquerda, certa direita e, sobretudo, o centro. Só não concordam muitos milhares de leitores.
Em vermelho, no post abaixo, segue a coluna de Miriam Leitão, publicada no Globo deste domingo. Respondo em azul. Sua covardia, confesso, me constrangeu. Suas tolices, confesso, quase me intimidam — a tal vergonha alheia. Cheguei perto de ignorar, de deixar pra lá. Mas eu não posso me negar a fazer a crônica destes tempos. Se, um dia, o PT tratar o grupo Globo como Cristina Kirchner trata o grupo Clarín, é preciso que eu tenha escrito: “Não digam que não avisei”. Se o PT não fizer isso por bons motivos (seus bons motivos), é preciso que eu tenha escrito: “Não digam que não avisei”. Não consigo ser mais sutil do que isso. Não consigo ser mais claro do que isso.
Bem-aventurados os covardes porque deles será… o reino dos covardes. No post abaixo, Leitão!
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PS – Ainda que a coluna de Miriam Leitão seja de uma indignidade escandalosa, aviso que não serão publicados comentários com agressões pessoais a esta senhora. Miriam Leitão chame de cachorro quem ela bem entender. Ninguém precisa nem deve tomá-la como padrão.