A crise energética e o estelionato eleitoral: se Dilma fosse primeira-ministra, já teria caído faz tempo
Resolvi citar o petista Chico Buarque: “O que será, que será?/ Que andam suspirando pelas alcovas/ Que andam sussurrando em versos e trovas/ Que andam combinando no breu das tocas/ Que anda nas cabeças, anda nas bocas/ Que andam acendendo velas nos becos/ Que estão falando alto pelos botecos/ E gritam nos mercados que com […]
Resolvi citar o petista Chico Buarque:
“O que será, que será?/
Que andam suspirando pelas alcovas/
Que andam sussurrando em versos e trovas/
Que andam combinando no breu das tocas/
Que anda nas cabeças, anda nas bocas/
Que andam acendendo velas nos becos/
Que estão falando alto pelos botecos/
E gritam nos mercados que com certeza/
Está na natureza/
Será, que será?
A resposta é simples: é o impeachment de Dilma Rousseff, mas não por nada. Seria preciso provar que Alberto Youssef fala a verdade quando afirma que ela sabia da roubalheira na Petrobras. Assim é no presidencialismo. Para derrubar o chefe do Executivo, é preciso que este tenha cometido uma falha muito grave, que atente contra a moralidade, contra a segurança do Estado ou contra os outros dois Poderes. No parlamentarismo, tudo é mais simples: se o primeiro-ministro faz uma grande bobagem administrativa, cai. Sem crise. É por isso que o parlamentarismo é, obviamente, um modelo superior ao presidencialismo.
Por que essa longa introdução? Se Dilma Rousseff fosse primeira-ministra, teria sido apeada do poder pela barbeiragem que fez no setor elétrico, que já custou R$ 105 bilhões aos cofres públicos, segundo cálculo abalizado de Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), e Mário Veiga, especialista da Consultoria PSR. A conta foi feita a pedido da Folha. Para comparação: o apagão de 2001 custou R$ 25 bilhões. Vale dizer: já se torrou mais do que o quádruplo.
Dilma produziu esse desastre todo apenas com a caneta. Não precisou nem sair da cadeira. Bastaram à dita-cuja um papel, duas intervenções em rede nacional de rádio e televisão, e R$ 105 bilhões foram para o ralo, deixando como herança uma crise inédita no setor. Fosse primeira-ministra, teria sido deposta. Fosse primeira-ministra, não voltaria jamais a comandar o país; fosse primeira-ministra, sem o auxílio da máquina, é provável que não se elegesse nem deputada. Como estamos no presidencialismo, foi reeleita.
Adriano Pires falou na noite desta terça com o jornalista Patrick Santos, de “Os Pingos nos Is”, da Jovem Pan. Afirmou o seguinte:
“O meu ‘pingo no i’ na crise de energia elétrica é que nós estamos correndo o risco de ter muitos apagões no verão, isto é, a depender da temperatura: se a temperatura for elevada, haverá picos de demanda, e não haverá térmica para ligar porque as térmicas já estão todas ligadas. A partir de abril e maio, haverá o risco de um grande racionamento de energia elétrica no Brasil se não chover o suficiente. Além disso, em 2015, as tarifas de energia elétrica, na média, vão ter de aumentar 20% se levar em consideração a inflação, ou seja, o governo em 2015 vai fazer um grande estelionato eleitoral sobre o consumidor: tudo o que a presidente Dilma prometeu durante a campanha não vai ser cumprido.”
Eis aí. Imaginem se estivéssemos no parlamentarismo.