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Reinaldo Azevedo

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A cosmética progressista de Obama. Ou: lei agrada mais à militância do que aos gays das Forças Armadas

(leia primeiro o post abaixo) O presidente Barack Obama conseguiu aprovar a lei que permite o ingresso de homossexuais assumidos nas Forças Armadas. Já que o resto da sua agenda não anda — o que o levou a tomar uma tunda nas eleições — que vingue ao menos a chamada “pauta progressista”, que o deixa […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 13h17 - Publicado em 22 dez 2010, 18h51

(leia primeiro o post abaixo)

O presidente Barack Obama conseguiu aprovar a lei que permite o ingresso de homossexuais assumidos nas Forças Armadas. Já que o resto da sua agenda não anda — o que o levou a tomar uma tunda nas eleições — que vingue ao menos a chamada “pauta progressista”, que o deixa de bem com os grupos politicamente corretos. Se alguém tentar explicar o que há de errado ou discriminatório na política do “Don’t Ask, Don’t Tell”, não vai conseguir. Ao contrário até: ela é a melhor possível. As Forças Armadas não são um lugar apropriado para proselitismo sexual, parece-me — ou outro qualquer: religioso, racial etc.

A conversa de que a lei, como está, levou à expulsou de milhares de soldados é falsa. Não há histórico de perseguição: os militares se excluíram ao preferir se declarar homossexuais, mesmo cientes da proibição. Proibição de quê? De ser gay? Não! De ser um soldado gay — seja lá o que isso signifique. Os comandantes das Forças preferem lidar com homens e mulheres, independentemente de com quem eles vão para a cama. Entenderam a diferença? Não é proibido ser gay — porque isso não se proíbe: não se aceita uma declaração de identidade num ambiente em que ela tende a gerar incômodos.

Obama comparou a questão à raça ou religião. A comparação procede pelo avesso. O que isso quer dizer? Católicos, batistas, metodistas, negros brancos e amarelos podem integrar as Forças Armadas Americanas, assim como os homo e os heterossexuais. O que não é conveniente, obviamente, é que radicais batistas, negros, hétero ou homossexuais queiram fazer da Força uma base de militância. Nesse sentido, essas coisas se igualam. Mas também são essencialmente diferentes.

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Homossexualismo não está necessariamente na cara — como a origem étnica. Se estiver — soldados que fossem, por exemplo, efeminados —, não me venham dizer que um ambiente pautado pelo uso controlado da força — e da violência —, que prepara homens e mulheres para a guerra, é o mais adequado para a expressão particular de identidades. A culpa não é nem do eventual efeminado nem das Forças Armadas. Há coisas que são compatíveis e outras que não são. Não existiam mulheres trabalhando na estiva não por conta do preconceito, mas da natureza do trabalho e do trabalhador.

Há outros inconvenientes. Homens e mulheres, mesmo nas Forças Armadas, ficam em alojamentos diferentes e usam estruturas de apoio distintas por razões bastante óbvias, não? Bingolins gostam de borboletinhas, e também o contrário. Eles se atraem desde que o mundo é mundo — e, também, desde que o mundo é mundo, há bingolins que procuram bingolins, e borboletinhas, borboletinhas: afinal, a proibição do concurso entre pessoas do mesmo sexo só é proibido no Velho Testamento porque existia, certo? E a freqüência com que era posto em prática certamente o tornou tema das Escrituras. A razão humana pode controlar e disciplinar os instintos, impulsos, sei lá eu, mas não impedi-los.

Um soldado heterossexual terá de compartilhar sua intimidade com um colega “assumido”, sabendo-se, eventualmente, a despeito do comportamento o mais decoroso, objeto do desejo do outro? Ou o tempo se encarregará de criar ambientes próprios para homens, mulheres, homossexuais masculinos e homossexuais femininos? A afirmação da “identidade” não corre o risco de acabar se manifestando como uma forma de discriminação?

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Leis assim satisfazem mais os militantes políticos do que aqueles que seriam seus beneficiários. Mesmo com a possibilidade, agora, de um gay assumido fazer parte das Forças Armadas, creio que a grande maioria dos homossexuais preferirá ficar no armário. Muitos deles silenciarão porque não terão qualquer interesse em ser reconhecidos como “gays nas Forças Armadas” — ali estão porque homens ou mulheres, independentemente daquilo que os excita sexualmente. Outros ainda ficarão na muda porque preferirão seus colegas heterossexuais bastante à vontade, sem a tensão que a declaração de identidade geraria.

A argumentação, em casos assim, costuma evoluir para o mais puro ilogismo. E tem início, então, a pletora de bobagens, com a lembrança de soldados exemplares que eram gays, como fez Obama em sua peroração. Os que pretendem dar fundamentação histórica à tese logo lembram de Alexandre, o Grande, talvez chegadito a rapazes e tal. Isso tudo, com efeito, é uma besteirada sem fim. Não consta que tais exemplos de bravura se davam no contexto de uma declaração de identidade. Justamente porque um gay pode ser um soldado exemplar, como qualquer outro, a declaração se faz desnecessária. E não custa lembrar à margem: um soldado gay também pode ser ruim, medíocre, como qualquer outro…

Isso tudo é uma tolice e uma desnecessidade — que estará em debate no Brasil daqui a pouco. Sei que haverá protestos contra este texto, como de hábito. Os soldados que, sendo eventualmente gays, preferem, NAS FORÇAS ARMADAS, ser soldados — é a sua função — não terão como vir a público dizer que estou certo e que a lei mais os prejudicaria do que os beneficiaria; e aqueles que eventualmente gostariam de ser soldados para que pudessem ser gays nas Forças Armadas logo gritarão: “Preconceito!”. O Brasil — e, em boa medida, o Ocidente — anda assim: ser gay, negro, mulher ou sei lá o quê virou cartão de identidade; em alguns casos, chega a ser uma profissão.

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Obama tem seu lado fanfarrão. É por isso que, na atual marcha, o risco de levar uma tunda nas próximas eleições presidenciais é gigantesco. E não porque ele seja progressista demais para um país reacionário — afinal, ele foi eleito, não? O problema é que ele não consegue uma agenda que vá além da cosmética progressista.

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