Quase secretária: tratamento precoce é ‘discussão delirante, esdrúxula’
A infectologista Luana Araújo disse à CPI da Pandemia que não houve nenhuma justificativa para que sua nomeação fosse cancelada
A médica Luana Araújo, indicada para chefiar a Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 no Ministério da Saúde, disse há pouco na CPI da Pandemia no Senado que a discussão sobre o suposto tratamento precoce contra a doença é “esdrúxula, delirante, anacrônica e contraproducente”. E equiparou o debate à escolha de uma borda da “terra plana” para pular.
No seu depoimento, ela contou ainda que foi dispensada do cargo antes mesmo de assumir oficialmente sem nenhuma justificativa. Ouviu apenas que sua nomeação não sairia, nove dias depois de ser anunciada publicamente pelo ministro Marcelo Queiroga.
Luana também relatou que recebeu ameaças desde o início da pandemia, por ser infectologista, e que após a passagem relâmpago pelo Ministério da Saúde, chegaram a divulgar o seu endereço.
“O que me foi dito é que existia um período entre a criação da secretaria e um processo chamado apostilamento. A minha nomeação estava programada para uma segunda-feira, ficou para uma terça-feira. Quarta-feira eu já tinha entendido que não ia funcionar. E aí fui comunicada que, infelizmente, com pesar, a minha nomeação não sairia”, declarou a médica.
Questionada pelo relator da CPI, Renan Calheiros, se discutiu a adoção de remédios contra a Covid-19 com Queiroga, ela disse que esse “nem foi um assunto”.
“O ministro Marcelo Queiroga é um homem da ciência. Todos nós somos absolutamente a favor de uma terapia precoce que exista. Quando ela não existe, ela não pode se tornar uma política de saúde pública”, apontou, para depois lançar seu petardo contra os remédios milagrosos tão defendidos pelo presidente Jair Bolsonaro e sua turma.
“Essa é uma discussão esdrúxula, delirante, anacrônica e contraproducente. Quando eu disse que, há um ano atrás, nós estávamos na vanguarda da estupidez mundial, eu infelizmente ainda mantenho isso em vários aspectos, porque nós ainda estamos aqui discutindo uma coisa que não tem cabimento. É como se a gente estivesse escolhendo de que borda da terra plana a gente vai pular. Não tem lógica”, disse.
Em uma alfinetada indireta aos trabalhos da CPI, a quase secretária disse que, ao invés de desenvolver soluções e estratégias claras, “nós estamos aqui discutindo algo que é um povo pacificado para o mundo inteiro”. “Esse que é o perigo da nossa fragilidade e da nossa arrogância. É preciso que a gente aprenda com os outros lugares”, concluiu.
No seu discurso de abertura, ela afirmou ainda que pleiteou autonomia, “não insubordinação e anarquia”. E disse que ciência não tem lado, é “bem ou mal feita”. Em outra indireta, desta vez à oncologista Nise Yamaguchi, que depôs na terça-feira aos senadores e defendeu a cloroquina e afins, ela disse não ter assessores e ser técnica.