O alerta de caciques do Centrão ao discurso golpista de Bolsonaro
Presidente recebeu nesta semana um importante empurrão do Congresso para lutar contra Lula, mas agora precisará parar de falar em golpe
A base política de Jair Bolsonaro, com o apoio da oposição, deu ao presidente, nesta semana, um importante argumento para abandonar o discurso golpista de fraude eleitoral contra as urnas eletrônicas.
Com bilhões para torrar em plena campanha, podendo abusar do populismo, Bolsonaro terá inegável vantagem sobre os demais candidatos que disputam o Planalto. Terá também, segundo os caciques que o apoiam, uma obrigação: vestir o figurino de candidato que joga pelas regras do jogo, que acredita no próprio potencial e pode vencer sem ameaças de golpe. As pesquisas encomendadas pelos caciques da base bolsonarista mostram que o discurso de fraude eleitoral e de rejeição do resultado das eleições prejudica Bolsonaro. Tira votos dele. É hora de parar.
Bolsonaro, segundo essas pesquisas, pode até defender “eleições com transparência”, algo que o eleitorado de todos os candidatos deseja, mas não flertar com o golpe ou com o uso de militares para atacar o TSE. É com esse jogo radical que os caciques querem acabar.
Há alguns dias, numa conversa de aliados de Bolsonaro no Centrão, nomes coroados da base governista falaram abertamente do fim da aliança com o presidente ao imaginar o futuro do país mergulhado numa escalada autoritária com apoiadores nas ruas para tentar replicar aqui o “novo Capitólio”.
A turma tira proveito dos cofres estatais, mas não estará com o presidente numa aventura golpista. Tanto que muitos conversam diretamente com figuras do Judiciário e da campanha de Lula. A defesa da democracia, com respeito ao resultado das eleições, será o discurso do Centrão, seja qual for o vencedor, até porque o próximo governo, seja qual for, terá o Centrão em sua base de apoio.
A desmobilização política do bolsonarismo já é uma realidade nessas conversas de bastidor. O raciocínio é simples. “Se o presidente insistir nesse discurso, a derrota é certa. Ninguém estará com ele na derrota, numa luta contra a democracia”, diz um interlocutor do Centrão.