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Governo Bolsonaro sabota ação de Mandetta para obter materiais na China

Ministro da Educação abre crise com chineses no momento em que Saúde luta para receber 15.000 respiradores, além de 200 milhões de máscaras

Por Robson Bonin Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 abr 2020, 08h57 - Publicado em 6 abr 2020, 07h05

A caminho de superar as 500 mortes, o Brasil viverá nos próximos dias um choque de realidade com a explosão de casos de coronavírus, o colapso da rede pública e privada de saúde e a chegada definitiva do drama que devastou diferentes países pelo mundo. O alerta foi dado há dias pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

O governo de Jair Bolsonaro, no entanto, perde minutos preciosos sabotando a tropa dentro do próprio quartel. Não bastasse o próprio presidente dar demonstrações públicas de ciúmes pela exposição do seu ministro da Saúde, agora foi o ministro da Educação, Abraham Weintraub, que apareceu para dar sua contribuição na crise.

Seguindo os passos de Eduardo Bolsonaro, que abriu a crise diplomática com os chineses, Abraham Weintraub atacou os chineses nas redes sociais. O roteiro repete argumentos adotados pelos Estados Unidos no início da crise, quando Donald Trump preferia negar o problema e chamar a pandemia “vírus chinês” criado pelo regime para tirar vantagens comerciais de seus concorrentes globais.

Neste domingo, Weintraub escreveu o seguinte em uma rede social: “Geopolíticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?”

abraham weintraub
(//Divulgação)

O ministro da Educação de Bolsonaro trocou a letra “r” por “l”, assim como Cebolinha, o personagem criado por Mauricio de Sousa. A mudança das letras também ridiculariza o sotaque de muitos asiáticos ao falar português. Para completar, Weintraub incluiu no seu elaborado texto, uma capa de gibi da Turma da Mônica na China.

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A resposta da China não demorou. Num texto nas redes, a embaixada chinesa no Brasil afirmou que a pandemia está se espalhando globalmente e traz um desafio que nenhum país consegue enfrentar sozinho. “A maior urgência neste momento é unir todos os países numa proativa cooperação internacional para acabar com a pandemia com a maior brevidade, com vistas a salvaguardar a saúde pública mundial e o bem-estar da Humanidade”, diz a nota.

A embaixada destaca a reprovação da Organização Mundial da Saúde à associação do coronavírus a um país ou região. “Instamos que alguns indivíduos do Brasil corrijam imediatamente os seus erros cometidos e parem com acusações infundadas contra a China”, conclui.

O próprio embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, veio a público nesta segunda-feira para cobrar uma resposta do Itamaraty sobre as declarações de Weintraub.

“O lado chinês aguarda uma declaração oficial do lado brasileiro sobre as palavras feitas pelo min. da educação, membro do governo brasileiro. Nós somos cientes de que nossos povos estão do mesmo lado ao resistir às palavras racistas e salvaguardar nossa amizade”, escreveu no Twitter.

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A nova crise não poderia vir em pior hora para o Brasil. Com uma guerra global por suprimentos – respiradores, máscaras, luvas, álcool gel… –, seria de se esperar que o governo estivesse focado por completo em fazer valer anos de relação amistosa com os chineses para assegurar a cooperação necessária ao enfrentamento da nossa escalada da curva. Não é o caso.

Enquanto a Saúde negocia contratos bilionários com os chineses, que já deram demonstrações de que podem ignorar o Brasil e vender seus produtos a outras nações, o governo Bolsonaro, além de não ajudar a equipe do ministro Mandetta, atrapalha seus esforços.

Como mostrou o Radar nesta segunda, a semana será decisiva para a estratégia brasileira de enfrentamento ao vírus. Os país comprou da China um lote de 200 milhões de máscaras e espera também a entrega de 150 milhões de unidades de materiais de proteção para profissionais de saúde, como luvas, capotes e álcool em gel dos chineses. Há ainda a promessa de entrega de 15.000 respiradores, num contrato orçado em 1 bilhão de reais.

Para buscar o material, o governo já planeja o envio de aviões da FAB à China. O problema, no entanto, é na guerra comercial que virou a compra de insumos chineses. O governo teme perder as cargas para outros países, em especial os Estados Unidos — do amigão de Jair Bolsonaro, Donald Trump — que vêm comprando produtos chineses de forma predatória para tentar conter o avanço da pandemia que avança entre os americanos de forma catastrófica.

A China vem doando produtos a diferentes países para apoiar o combate ao vírus enquanto o Brasil vem sofrendo para tentar comprar materiais de empresas chinesas. Se isso não é sinal de que a turma de Bolsonaro deveria parar de brincar com coisa séria…

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