Derrota do petismo para Milei tem muito a ensinar sobre 2026
Quando o povo cansou, nem o dinheiro brasileiro, as viagens de Lula ou os marqueteiros petistas conseguiram evitar a derrota na Argentina

Resultado da profunda crise provocada por desastrosas administrações de esquerda e de direita na Argentina, a vitória de Javier Milei virou uma derrota para o petismo e para o próprio presidente Lula. Integrantes da diplomacia brasileira, desde o início, consideraram um erro marqueteiros de campanhas petistas terem se envolvido na disputa eleitoral argentina.
No desespero para manter o grupo de Alberto Fernández no poder, a partir da candidatura de Serio Massa, Lula dedicou um bom espaço da sua agenda, neste ano, ao país vizinho. Recebeu seguidas vezes o presidente argentino no Planalto, foi até a Argentina para eventos e investiu recursos brasileiros — em agosto, Haddad anunciou, ao lado de Massa, um acordo de 600 milhões de dólares a exportações envolvendo o BNDES e o Banco do Brasil — para socorrer temporariamente os hermanos. Na reta final, chegou a dar declarações orientando argentinos sobre como votar.
A vitória de Massa no primeiro turno animou o petismo e os aliados de Lula no governo. Todos passaram a falar da “tecnologia petista” na campanha de Massa — que seguiu a estratégia de combate ao radicalismo espalhando medo nas redes. No segundo turno, porém, o que seria um resultado “apertado”, segundo os institutos de pesquisa, tornou-se uma derrota arrasadora para o grupo que está no poder. Lula e o petismo não precisavam sofrer essa derrota, mas perderam a capacidade de analisar a realidade ao acreditar nos poderes sobrenaturais da mística petista.
Ao ver Lula passar por tudo o que passou e ainda voltar ao Planalto para seu terceiro mandato, o petismo passou a acreditar em poderes ilimitados — eleger um presidente na sofrida Argentina seria barbada. A vitória de Milei, além de um protesto contra tudo que se fez na Argentina pela política tradicional, é resultado da incapacidade da esquerda de reconhecer erros e vender sonhos ao eleitorado. É, principalmente, um alerta a Lula e seus aliados.
O petismo não está no Planalto porque ofereceu ao país novas alternativas de futuro ou porque admitiu erros e crimes do passado e prometeu fazer diferente, retomando assim a confiança da Nação. Lula venceu Jair Bolsonaro no ano passado porque o ex-presidente cometeu todos os erros — e crimes, como bem investiga o STF — possíveis durante seu mandato e o eleitorado se obrigou a escolher o menos pior. Uma grande parcela não votou em nenhum dos dois lados da polarização.
Se Bolsonaro tivesse feito o básico, Lula não estaria no Planalto e o país seguiria condenado a lidar por mais quatro anos com crises fabricadas, ataques aos poderes e inimigos imaginários.
Como espelho do bolsonarismo, a gestão que vai iniciar na Argentina pode aprofundar ainda mais a crise no país vizinho. As propostas de Milei, em sua maioria insustentáveis, indicam esse provável e triste caminho.
Elas, no entanto, derrotaram o grupo instalado no poder porque a população cansou. Como lá, os brasileiros já se cansaram por aqui, mas aprenderam bastante com os anos de Bolsonaro. O petismo, derrotado na Argentina, também precisa aprender com Milei.
Em 2026, será preciso mais do que marqueteiros para vencer a nova encarnação do bolsonarismo. Lula e seu governo precisarão ter feito o dever de casa, organizado a economia, promovido justiça social e arrumado o caos na segurança pública, além, é claro, de evitar o retorno dos grandes escândalos de corrupção.
Como a esquerda argentina bem sabe, eleitor cansado e desiludido é um perigo.