Delúbio Soares: humilde, sonhador, probo e pobre
Nas 135 páginas de alegações finais entregues esta tarde ao Supremo, a defesa de Delúbio Soares rebate as acusações de formação de quadrilha e de corrupção ativa no processo do mensalão, assim como fez Marcos Valério (Leia mais em E o Lula? e A defesa). Ao longo de sua defesa, que pede sua absolvição, Delúbio […]
Nas 135 páginas de alegações finais entregues esta tarde ao Supremo, a defesa de Delúbio Soares rebate as acusações de formação de quadrilha e de corrupção ativa no processo do mensalão, assim como fez Marcos Valério (Leia mais em E o Lula? e A defesa). Ao longo de sua defesa, que pede sua absolvição, Delúbio é classificado como um sonhador, “humilde”, “probo”, “pobre”. Isso mesmo. Anotam os trechos do texto, para rebater a acusação de que se apropriou de 550 000 reais de recursos do chamado valerioduto:
– Humilde, Delúbio ostenta uma condição financeira absolutamente compatível com seus rendimentos, o que reforça ainda mais sua honradez e o despropósito da acusação ministerial de que o defendente teria se beneficiado de valores obtidos por meio dos empréstimos tomados junto aos Bancos Rural e BMG.
– Delúbio Soares dedica sua vida a um sonho: “Lutar por democracia, pluralidade, solidariedade, transformações políticas, sociais, institucionais, econômicas, jurídicas e culturais, destinadas a eliminar a exploração, a dominação, a opressão, a desigualdade, a injustiça e a miséria, com o objetivo de construir o socialismo democrático”. Assim viveu cada um dos seus dias nos últimos 31 anos. Esse sonho não se realiza – sabemos todos, sabe ele – comprando votos de parlamentares ou engendrando organizações criminosas. Não!
– Homem desprendido, Delúbio vive com simplicidade, é pobre, a despeito dos tantos milhões que passaram por suas mãos. Por isso mesmo goza de imenso respeito entre os que compartilham suas posições políticas.
– Se das finanças do maior Partido político brasileiro não desviou um ceitil em proveito próprio, cometeu – não há negá-lo – um deslize típico da democracia brasileira e, se dele fosse acusado, defender-se-ia, mas aceitaria a punição que acaso lhe tocasse. Estaria, afinal, sendo punido pelo que fez, não pelo que arbitrariamente se supôs que fez.
Para não ser punido pelo Supremo, Delúbio, por meio da defesa, afirma que não comprou apoio político para aprovar projetos do governo Lula. Serviu apenas – na propalada tese da defesa de um crime já prescrito, diga-se – de pagador de dívidas de campanha do PT e de aliados, a pedido da cúpula partidária.
A defesa apresenta até uma conta para provar tanto a inocência dele como sua mera participação acessória no escândalo. Dos 394 depoimentos transcritos, 337 não mencionam Delúbio, 39 conhecem-no da vida profissional ou partidária, quatorze de vista ou da mídia e nenhum conversou com ele sobre compra de votos ou ouvir falar disso.
Para reforçar ainda mais sua posição, os advogados de Delúbio apresentam uma série de tabelas em que importantes votações do Congresso, alvo das suspeitas de pagamento do mensalão, só foram aprovadas porque contaram com o apoio “dos partidos da oposição”.
Delúbio se vale até do precedente no processo do Supremo que absolveu Fernando Collor da acusação de corrupção para se isentar. Segundo ele, assim como no caso do ex-presidente que sofreu impeachment, não há ato de ofício apto a caracterizar o crime. Por último, ele também ressalta que não há “qualquer prova” de que ele, José Dirceu e os outros dirigentes do PT se associaram em uma quadrilha para cometer crimes. Há sim amizade e a coincidente filiação partidária.