As acusações de fraude nas urnas eletrônicas, nunca provadas por Jair Bolsonaro, caíram por terra no último domingo. Depois de tanto problematizarem a organização do pleito, as Forças Armadas – que representam o presidente nessa cruzada de questionamento ao sistema eleitoral – foram ouvidas, tiveram sugestões acolhidas pelo TSE e puderam participar da conferência da eleição.
O resultado de todo esse trabalho foi a implosão do discurso oficial contra a integridade das eleições. Diferentes órgãos se uniram ao TSE para atestar: o pleito de domingo foi íntegro, o sistema é seguro e não há motivos para desconfiar de fraude.
Diante da desmoralização factual de sua cruzada, Bolsonaro parece ter mudado de rumo. Agora, diz desconfiar do sistema porque um desafeto dele comanda o TSE, não porque o sistema seja vulnerável a adulterações. A entrevista do presidente ao diretor de redação de VEJA, Mauricio Lima, e ao redator-chefe, Sérgio Ruiz Luz, é reveladora nesse sentido.
“O senhor continua desconfiado da lisura do processo”, questionaram Lima e Ruiz. “À frente hoje do TSE está justamente o Alexandre de Moraes e nos espanta a forma como ele e outros ministros dizem, com convicção: ‘Ah, o sistema é à prova de qualquer fraude’. Eles dificultaram e retardaram a participação das Forças Armadas junto ao TSE. Tem o sentimento da opinião pública que houve coisa errada. Tem esse sentimento. Sempre fico preocupado”, disse Bolsonaro.
Como os militares vão atestar a segurança do sistema eleitoral, desmoralizando o discurso do presidente, ele já se socorre de um velho método político: jogar a responsabilidade para o “povo”. Não tenho argumentos para atacar a urna? Vou dizer então que “tem o sentimento da opinião pública que houve coisa errada”. A fala de Bolsonaro é simbólica. Sugere que ele pode usar o tal “sentimento da opinião pública” para não reconhecer uma eventual derrota no fim do mês.
Com tantos aliados eleitos no primeiro turno, o presidente estava de mãos amarradas para atacar o sistema: como deslegitimar a eleição de tantos bolsonaristas? Agora, no segundo turno, a coisa é outra. Alguns governadores do campo bolsonarista ainda lutam pelo voto, mas será mais fácil ao presidente atacar o sistema caso Lula seja eleito.