O grito e o argumento
Os radicais fazem muito barulho. Mas a eleição vai ser decidida por quem fala na hora certa - nas urnas
A população brasileira anda muito polarizada, certo? Se você, leitor, leitora, concorda com essa percepção generalizada, vou estrear este espaço no blog da VEJA remando contra a maré.
É claro que a polarização existe. Sempre existiu, e provavelmente está mais intensa nos últimos tempos, quando as vozes mais estridentes do obscurantismo nos obrigam até mesmo a reafirmar o formato da Terra.
Isso não significa, no entanto, que a população, em sua maior parte, tenha se radicalizado. Um levantamento do Instituto Locomotiva (veja detalhes aqui) revela que apenas um terço dos brasileiros se identifica com os extremos do debate político, seja numa ou noutra ponta do espectro ideológico.
A maioria é silenciosa. Isso não quer dizer que não tenha opinião. Quer dizer apenas que essas pessoas preferem a reflexão ao xingamento, o argumento ao grito, a luz ao calor. Ocorre que suas vozes acabam ficando abafadas em meio ao alarde dos que vivem proclamado certezas inabaláveis nas ruas e na internet.
O silêncio não as coloca em cima do muro. Ao contrário, é esse segmento, mais ponderado, que tende a definir os resultados das eleições, e o pleito deste ano não deverá ser exceção. São pessoas que falam na hora certa – a hora de votar.
A pesquisa mostra ainda que a porcentagem dos considerados intolerantes a opiniões alheias é ainda menor do que a dos que polarizam o debate – um quarto em comparação a um terço. Mais uma vez, numa escala de zero a dez, a maioria demostra civilidade na discussão, com intolerância média (34%) ou baixa (41%).
É a partir desse extrato de menor visibilidade, equidistante dos radicalismos, que surge a melhor oportunidade de construirmos os consensos necessários para o Brasil caminhar em direção a um país socialmente mais justo.