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Por Paulo Cezar Caju
O papo reto do craque que joga contra o lugar-comum
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Rodrigo Rodrigues, o menino que me fazia parar para ver futebol na TV

Apresentador carregava uma pureza, um ar juvenil e misturava música e esporte como em uma roda de amigos. Sua partida é inaceitável

Por Paulo Cezar Caju Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 jul 2020, 12h06 - Publicado em 29 jul 2020, 11h47

Talvez não interesse a ninguém o meu choro, mas choro a cada morte anunciada na tevê. O mundo mascarado, políticos roubando respiradores, estádios vazios e o vírus devastando famílias. Outro dia soube que um senhor do andar de baixo estava contaminado por esse vírus maldito. Claro que quando esses casos atingem pessoas mais próximas, vizinhos e familiares ficamos mais assombrados ainda. É sinal que ele existe mesmo e nos aniquila, esfrega na nossa cara o quão somos frágeis. O futebol não me serve mais como distração e fico zapeando até encontrar algo que me anestesie. Olha o Wilson Simonal! Um showman! Olha que apresentação com a diva Sarah Vaughan!! Simonal foi um artista fora de série, se nascesse nos Estados Unidos seria um astro de Hollywood, da Broadway, mas aqui foi só mais um morto pelo vírus, não o Corona, mas o da injustiça e maldade.

Mudei de canal e parei em uma apresentação dos festivais da canção, que fizeram sucesso nas décadas de 60 e 70. O cantor Sergio Ricardo, que nos deixou há alguns dias, estava prestes a se apresentar. Ia cantar “Beto Bom de Bola”, mas já no anúncio a plateia caiu na vaia. Chorei porque fui muito vaiado em minha carreira. E não foi pouco. Mas ele perdeu a paciência e quebrou o violão. A plateia estava tomada pelo vírus da falta de respeito e educação. Os vírus sempre nos rondaram, alguns matam, outros nos envergonham, nos corroem aos poucos. Quero dormir, mas tenho medo dos pesadelos. Acordado tento controlá-los. Nos meus tempos de doidão já teria cheirado várias carreiras e entornado duas garrafas de champanhe. Mas, hoje, encaro todos os vírus de frente, estou puro há 20 anos. Nada me abala, mas choro, tenho chorado muito.

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O jornalista Pedro Mota Gueiros me definiu como agridoce, um doce reclamão. Sou amigo de muitos jornalistas e discordo do pensamento de grande parte dos que habitam as mesas redondas atuais. Mas é apenas uma questão de ”gosto futebolístico”, assim como não aprovo a escola gaúcha e muitos deles a reverenciam. Prefiro Telê mesmo perdendo duas Copas a Felipão ganhando uma. Da mesma forma que muitos não gostavam do meu futebol. E por falar em mesa redonda, mudo de canal e me deparo com o anúncio da morte inaceitável do jornalista Rodrigo Rodrigues. Há tempos venho evitando os programas esportivos, mas quando ele estava apresentando eu sempre dava uma paradinha e acabava ficando porque ele carregava uma pureza, um ar juvenil, raro nos dias de hoje.

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Era como se discutisse futebol em uma roda de amigos da faculdade. Não era um especialista, um sabe tudo ou um desses que buscam audiência a qualquer preço. Era um menino, não sei a idade, mas era um menino, sim. Misturava música com futebol e isso fazia toda a diferença. Por isso, admiro tanto o jornalista João Carlos Albuquerque, um Canalha agridoce, que enxerga o futebol como uma bela canção. Futebol é suingue, dança, balé. Desliguei a tevê e fui caminhar na praia, chorar mais um bocado. No banco do calçadão, um jovem tocava violão, uma afinação de aliviar a alma. Seria um violonista imaginário? Talvez. Sentei-me a seu lado. O músico parecia Rodrigo, talvez fosse. Me senti protegido, amparado e, juntos, miramos o mar por horas e horas.

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