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O Som e a Fúria

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Como o melhor disco dos Beatles sem os Beatles surpreendeu o mundo

Álbum foi lançado há exatos 54 anos e continua sendo até hoje um dos grandes clássicos da era de ouro do rock

Por Sergio Ruiz Luz Atualizado em 27 nov 2024, 13h29 - Publicado em 27 nov 2024, 09h39
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  • Um dos muitos artistas que fizeram versões de Something, Frank Sinatra a considerava uma das maiores canções de amor de todos os tempos. Antes de anunciá-la ao público nos concertos, costumava dizer que era uma obra de Lennon-McCartney.  A gafe dava uma exata dimensão de como George Harrison, o verdadeiro autor da música, viveu sob a sombra de seus dois colegas dos Beatles. Como competir contra a maior dupla de compositores de rock de todos os tempos? Durante muito tempo, o guitarrista teve que se contentar em emplacar uma música por álbum do Fab Four. Nos anos derradeiros do grupo, mesmo quando seu talento como compositor já era inquestionável — Something e Here Comes the Sun, ambas do disco Abbey Road, eram provas cabais disso –, Harrison seguia escanteado pelos parceiros. “George tenta colocar músicas em nossos discos desde 1920”, ironizou certa vez Lennon em uma entrevista. “Ele precisa fazer um álbum.”

    Dito e feito. Meses após o colapso dos Beatles, Harrison vingou-se de forma magistral, com um álbum triplo recheado de canções que haviam sido recusadas por seus antigos colegas. O próprio nome do LP, All Things Must Pass (Tudo Deve Passar), já dava o tom de virada de página na carreira. O lançamento ocorreu em 27 de novembro de 1970, ou seja, há exatos 54 anos. Com esse disco, Harrison acabou sendo o primeiro ex-integrante do Fab Four a chegar ao topo das paradas, graças a My Sweet Lord.  Até hoje é considerado o melhor disco-solo de um ex-beatle por publicações como o jornal inglês The Independent —   algo que está longe de significar pouca coisa, considerando-se que John Lennon e Paul McCartney tiveram momentos brilhantes em suas respectivas carreiras-solo. Como prova da capacidade de All Things Must Pass  de resistir ao tempo, o relançamento da obra em um pacote especial por ocasião de seu cinquentenário a catapultou novamente ao topo das paradas.

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    Capa do álbum triplo lançado em 27 de novembro de 1970 (Reprodução/VEJA)

    O álbum contém 23  canções e uma coleção de colaboradores ilustres, de Bob Dylan a Eric Clapton. Além da faixa-título, tem outros pontos altos como Isn’t a Pity? e What’s Life. Nenhuma tornou-se um hit tão grande e deu tantas dores de cabeça a Harrison quanto My Sweet Lord.  Tempos depois, the Chiffons’, um grupo feminino, acusou-o de ter plagiado uma canção delas,  He’s so Fine. O ex-beatle perdeu a disputa nos tribunais e teve que reembolsar 75% do dinheiro que havia ganho com My Sweet Lord e uma  uma parcela da renda do All Things Must Pass, num total de 1,6 milhão de dólares. Em sua autobiografia, o guitarrista afirmou que não tinha consciência da semelhança entre as duas músicas. 

    Esse problema do processo por plágio jamais conseguiu tirar o brilho do álbum. Se tivesse pendurado as chuteiras após All Things Must Pass, Harrison já teria deixado sua marca definitiva. Seguiu produzindo e, ao longo da carreira, lançou outros bons discos. Mas nada comparável ao álbum triplo que, pelo critério de qualidade instituído pelo Fab Four, pode-se dizer que entrou para a história como a melhor obra dos Beatles — sem os Beatles.

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