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Os Dez Mandamentos (adaptados aos políticos brasileiros)

Um decálogo destinado a todos os ocupantes de cargos eletivos que se arrogam o direito de enriquecer à custa do país

Por Maicon Tenfen 3 out 2017, 03h00

1) Não roubarás.

Geralmente os decálogos colocam esta regra do meio para o final. No caso do Brasil, ela deve vir em primeiro lugar. Estamos numa situação tão caótica que o simples fato de um político não roubar — um preceito ético óbvio — é capaz de colocá-lo num panteão de celebridades.

2) Não matarás.

Todo mundo sabe que o dinheiro que vai para o bolso dos deputados e para o cofre dos partidos falta na educação, no saneamento, na segurança e na saúde. Os políticos corruptos deveriam ser formalmente acusados das mortes causadas pela falta de recursos hospitalares.

3) Respeitarás o teu país sobre todas as coisas.

Declarar amor pátrio para em seguida meter a mão no erário é uma hipocrisia que deveria ser punível com uma surra em praça pública. “O povo merece respeitoooo!!!”, dizia Eduardo Cunha em suas campanhas. Sempre vale a pena desconfiar dos que abrem a boca para cuspir a sua virtude sobre a nação.

4) Estudarás, estudarás e estudarás.

Esse negócio de político analfabeto representar o “povo oprimido etc.” não faz o menor sentido nos dias atuais. Quem se lança na carreira política tem o dever de se preparar intelectualmente para os cargos que porventura vá ocupar. Não se trata de excluir os humildes do poder (papinho manjado!), mas de qualificar a nossa representatividade pública.

5) Renunciarás em caso de suspeita.

Foi acusado com base em provas palpáveis? Renuncie ao cargo ou peça uma licença até a completa apuração dos fatos. Se não fizer isso, que sofra as providências dos superiores. No Brasil, entretanto, parece que os ministérios se transformaram em trincheiras para bandidos. Isso vale para o tempo da Dilma, que tentou empossar o Lula às pressas, e para o do Temer, que desde o princípio senta-se a uma mesa de mafiosos.

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6) Renunciarás às benesses desnecessárias ao cumprimento do teu mandato.

Os políticos brasileiros possuem os melhores salários, as melhores condições de trabalho e os maiores benefícios da história trabalhista mundial. São vales e bônus para tudo, até para comprar gravatas. Por que não miramos o exemplo da Suécia e de outros países desenvolvidos? O máximo que o Estado deve fornecer a um deputado é um quartinho de pensão com lavanderia coletiva.

7) Não tomarás o santo nome da democracia em vão.

As sacanagens de Brasília são feitas em nome de altos valores humanitários. Deputados com medo das algemas votam leis contra o abuso de autoridade e dizem que estão preocupados com o cidadão comum. É o cúmulo da cara de pau. Quando o PT esperneia para livrar a cara do Aécio em nome da harmonia entre os poderes, significa que perderam a noção sobre a nossa capacidade de aturar a palhaçada.

8) Não cobiçarás o dinheiro público.

Este mandamento não diz respeito ao roubo direto, mas à abominável prática do legislativo de trocar a liberação de verbas por votos favoráveis ao governo — inclusive para livrá-lo da Justiça. Dizem que político é um bicho que vende a mãe e não entrega. Os nossos vendem é o voto mesmo, mas isso está tão cristalizado na cultura política que até a imprensa entende o vício como normal.

9) Santificarás os teus dias de trabalho.

Além das férias e dos benefícios extravagantes, os políticos brasileiros ainda têm a mania de faltar constantemente ao trabalho, ou de comparecer apenas para atuar em benefício próprio. O fato de Tiririca ser indicado como o parlamentar mais assíduo não causa vergonha aos colegas?

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10) Não terás outros ídolos além do povo brasileiro, de quem és empregado.

Político não é patrão, é serviçal, e não só daqueles que lhes deram votos. Devia existir a possibilidade de demissão dos políticos corruptos e incompetentes, não apenas através de impeachment. Se um empregado malandro pode ser mandado embora do armazém, por que um político precisa ter o cargo garantido até o fim do mandato? Só por que trabalha de gravata?

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