Lula protagonizou, ontem, um inesquecível show de cinismo ao falar sobre o ex-deputado José Dirceu e o escândalo do mensalão em entrevista a emissoras de rádio. Fez afirmações do tipo:
* “O Zé Dirceu acaba de ser cassado. Vocês podem me dizer qual acusação que foi provada contra o Zé Dirceu? Não foi provado”;
* “Houve crime eleitoral de caixa dois, já provado na CPI. Ninguém nega isso” (ao negar o mensalão e outros possíveis crimes);
* “Não sei quem sabia. O companheiro Delúbio Soares assumiu a responsabilidade pelo PT. A direção do PT não tinha porque me comunicar” (sobre a origem dos recursos para sua campanha);
* “Quantas mães e pais têm filhos dentro de casa, praticando delitos, usando drogas, e não sabem? No Estado, por que um ministro tem que saber tudo o que ocorre no território nacional?”
Por último, Lula disse ainda que levará Dirceu para seu palanque, caso seja candidato à reeleição. Dirceu não irá. Quer distância dele. E, em breve, começará a fustigá-lo.
O cinismo de Lula está no fato de que só decidiu defender o responsável por sua eleição depois que ele foi cassado. Antes, tentou forçá-lo a renunciar. E em seguida lavou as mãos.
Dirceu foi para o matadouro como um cordeirinho. Para se defender teria que destrinchar a frase que um dia cunhou:
– Nada fiz sem autorização e o conhecimento do presidente da República.
Em seu último discurso como deputado, disse algo que de propósito soou dúbio:
– Todos nesta Casa sabem que eu nunca fui o chefe do mensalão.
A frase se perdeu no meio do discurso. Ele quer passar à História como o homem que fundou o governo e que garantiu sua sobrevivência com o silêncio.