É um ponto no sul do Oceano Pacífico a 12,5 mil quilômetros de distância do Rio. A ilha de Niue tem dois mil habitantes, o tamanho de Itaguaí (RJ) e funciona como paraíso fiscal. A Lava-Jato chegou lá.
Há meses, a ilha entrou no radar de investigadores de fraudes corporativas. Trabalham para a Petrobras, o fundo Elliott Management Corp. (EUA) e gestores de ativos de famílias como Rothschild (Inglaterra/França), Santo Domingo (Colômbia), Kriete (El Salvador) e Macri (Argentina). Tentam desvendar a arquitetura de centenas de companhias criadas pelos empresários German e José Efromovich para evitar confisco de patrimônio por seus credores em negócios com petróleo, navios e aviação.
Descobriu-se que os irmãos Efromovich usaram empresas de Niue para pagar R$ 28 milhões em subornos a políticos vinculados ao ex-deputado do MDB Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro nos governos Lula e Dilma. A estatal encomendou-lhes quatro navios por R$ 910 milhões, com financiamento do BNDES. Recebeu um, com avarias. Perdeu mais de R$ 700 milhões.
Machado confessou propinas recebidas, com documentos. A Petrobras mobilizou investigadores da Localize na rota do dinheiro das trapaças dos donos da Avianca e do estaleiro Eisa, no Rio. Eles concluíram que “todo o grupo [Efromovich] foi pensado estrategicamente para fraudar credores”. Mas restam alguns mistérios para a Justiça brasileira. Um deles: quem são os verdadeiros donos da nave-mãe em Niue, a Synergy Trust.
German e José foram presos na semana passada. Poderiam contar como fizeram história no Rio, a partir de 1992, ao trocar serviços em dutos por uma extraordinária concentração de encomendas da Petrobras. Acumularam US$ 2,5 bilhões em contratos na gestão de Joel Rennó, no governo Fernando Henrique. Entre eles, o da plataforma que afundou em Campos, matando onze petroleiros. Os irmãos Efromovich foram proibidos de entrar na sede da Petrobras. Voltaram nos governos seguintes, pela portaria que o PT entregou ao MDB de Machado na Transpetro.
(Transcrito de O Globo)