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Se a economia falasse

De 1981 a 2016 fiquei atolada em 31 trimestres de recessão

Por Gustavo Krause
Atualizado em 30 jul 2020, 20h19 - Publicado em 23 set 2018, 16h00

Estranho. Sonhei que conversava com a economia brasileira: uma senhora de meia idade, encorpada, sobriamente maquiada, um rosto de feições bem delineadas e um olhar perdido no horizonte.

– Por que a senhora me convidou para conversar se nem economista sou e com tanta gente boa na seara do pensamento econômico? Serenamente, respondeu: – o senhor me maltratou pouco: somente 75 dias, um ministro breve. Compreendi: meu mérito era medido pelo mal menor. Antes que defendesse os méritos de ex-ocupantes do cargo, ela desabafou: – Tenho sofrido muito. Nos tempos de democracia e nos anos de ditadura. Não precisa ir longe. De 1981 a 2016 fiquei atolada em 31 trimestres de recessão que, somados, representam ¼ do PIB. – Interrompi e relembrei: de 1930 a 1980 a economia brasileira foi a que mais cresceu no mundo e estamos entre as dez maiores do mundo.

– É verdade, porém, a partir de então, veio a década perdida e, de 1980/1994, levei sopapo de todo tipo: foram 15 ministros de fazenda, 14 presidentes do banco central, 6 moedas, 6 planos de estabilização e um confisco, 53 medidas de controle de preço culminando com a estupidez do congelamento e uma inflação média de 720% ao ano. – Mas nem tudo foi espinho – argumentei – exaltando o êxito do plano real, a estabilização de preços e uma gestão macroeconômica que, após exaustiva faxina nos passivos/esqueletos, assegurou a estabilidade, estruturada no tripé câmbio flutuante-meta de inflação-meta fiscal. E mais – acrescentei – tudo culminou com o crescimento econômico do PIB, 7,6%, em 2010, e melhoria na distribuição de renda.

Mal terminei, ela contra-atacou: – A Presidente eleita deu ares de ciência à “nova matriz econômica”. Haja gastança e a prática do surfe na “marolinha” de 2008. A abundância é má conselheira. O ciclo virtuoso da economia mundial aconselhava um choque de prudência. Que nada! Pé no acelerador. O estelionato eleitoral assegurou a continuidade do ativismo estatal que custou, em 2014, o primeiro déficit primário em 18 anos, R,5 bilhões, 0,63% do PIB. Desci ladeira abaixo. Crise política, econômica e ética igual a impeachment. Suspirei, reagi, tenho força, resiliência, mas o atual governo afundou na impopularidade e nas suspeitas que recaem sobre a classe política.

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– E o futuro? Apressei-me. – Sou prisioneira de bolas de ferro atadas aos meus pés. Ou desatam, com reformas, ou vamos para o buraco. – E o seu candidato? Aí, acordei.

Gustavo Krause é ex-ministro da Fazenda 

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