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Resposta à crise vai definir futura ordem global (por Marcos Magalhães)

Qual será a reação à expansão do coronavírus nas regiões mais pobres do planeta?

Por Marcos Magalhães
Atualizado em 30 jul 2020, 19h00 - Publicado em 15 abr 2020, 11h00

Na noite do domingo de Páscoa, o principal símbolo do Brasil diante do mundo se tornou multinacional. O céu do Rio de Janeiro foi iluminado por um show de luzes que, depois de vestir de jaleco a imagem do Cristo Redentor, em homenagem aos profissionais de saúde, a cobriu de bandeiras de China, Coreia do Sul, Itália, Espanha, França e muitos outros países afetados pelo coronavírus.

A ordem inicial das bandeiras, mais lenta, seguiu o caminho de expansão do vírus. Depois, ganhou velocidade para incluir países onde a doença ainda não chegou às manchetes internacionais, como África do Sul, Argélia e Moçambique.

As imagens acertam duas vezes. Inicialmente por lembrar que não há fronteiras à propagação da doença que, pouco a pouco, coloca todo o mundo em alerta. Depois, por incluir no roteiro as bandeiras de países situados a milhares de quilômetros dos principais centros de poder e de riqueza do mundo.

Uma bandeira após a outra, um país após o outro. Como uma engrenagem que espalha a doença por todos os continentes. E como uma advertência de que, isolados, os países poderão fazer pouco para superar a ameaça que afeta o mundo todo.

Pós-crise

À medida que o pior parece ter ficado para trás na Europa, até então o principal foco de atenção, especialistas de todo o mundo se apressam a especular sobre como será o mundo pós-COVID 19. Os nacionalismos ganharão mais força? A solidariedade retornará? Seremos menos materialistas? Um novo sistema econômico estaria a caminho?

As respostas a essas perguntas ainda estão distantes. Mas elas começam a ser formuladas nas próximas semanas, enquanto governos em todo o mundo definem seus próximos passos no combate à expansão do vírus.

Por enquanto as ameaças de retrocesso parecem bem presentes. Crescem ao redor do planeta as disputas pela aquisição de equipamentos necessários ao combate ao vírus, como máscaras de proteção e respiradores artificiais. E não são disputas de cavalheiros. O dinheiro vivo dos países mais ricos tem feito a diferença na hora de garantir as encomendas.

A produção desses equipamentos, baseada principalmente na China, não é capaz de suprir a enorme demanda global. Acordos entre fabricantes e compradores podem deixar prevalecer a lei do mais forte, garantindo maior proteção às populações de países da Europa e da América do Norte.

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Rumo ao Sul

A expansão do vírus para outras regiões do mundo, porém, poderá ocorrer de forma mais rápida que o crescimento da produção dos equipamentos de saúde. Dessa forma, países periféricos, que já não teriam os meios de competir inicialmente pela compra desses produtos com governos de nações mais ricas, provavelmente encontrarão prateleiras vazias.

A população mundial se acostumou, nas últimas semanas, a acompanhar pelas redes globais de televisão as imagens de grandes cidades vazias no Hemisfério Norte. Essas imagens de Milão, Madri e Nova York servem para lembrar a todos que a ameaça é global.

Em mais algumas semanas, porém, o vírus se espalhará agressivamente em regiões como a América Latina, a África e o Sudeste Asiático. Até o momento as elites ocidentais, aí incluída a elite brasileira, sentiram empatia com as famílias que cantam nos terraços de Milão, para espantar a dor e o medo.

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Se a expansão do vírus seguir em direção ao chamado Sul Global, como se prevê, logo o planeta será invadido por outras imagens de dor, medo e morte, agora em grandes aglomerações urbanas dos países em desenvolvimento. Aí incluídas as favelas do Rio de Janeiro, de Mumbai e de Lagos.

Qual será a reação global à expansão do coronavírus nas regiões mais pobres do planeta? Da resposta a esta pergunta dependem muitas das premissas a serem levadas em conta no momento de se questionar como será o mundo pós-crise.

O nível de cooperação global no combate à doença, principalmente quando ela alcançar essas regiões mais pobres, será determinante na construção de uma nova ordem mundial, se ela de fato vier a existir.

Atitude

No caminho das boas intenções estarão desafios gigantescos. Esses desafios provavelmente serão maiores do que os recursos necessários para lidar com eles. Mas a atitude dos países ricos em relação aos menos desenvolvidos no momento de expansão do vírus em direção ao Hemisfério Sul será determinante para criar relações de confiança ou de ressentimento.

Em entrevista ao apresentador de televisão Luciano Huck, publicada no jornal Estado de S. Paulo, o historiador israelense Yuval Noah Harari – autor de best sellers como Sapiens e Homo Deus – recorda que todos os países dependem de outros para obter produtos como luvas, máscaras de proteção, kits de testes e respiradores. A seu ver, é preciso evitar o “monopólio” desses produtos pelos países mais ricos.

“Se lidarmos com isso de maneira cooperativa, a crise será menos grave e, depois da crise, teremos um legado de solidariedade humana”, adverte Harari. “Se, por outro lado, for cada país por si e cada um culpando o outro, então não apenas a crise será muito mais grave, mas teremos uma atmosfera envenenada depois por muitos anos”.

Os argumentos de Harari podem ser tomados pelos de um idealista. Como ilusões de um professor que tem no horizonte o destino de toda a humanidade. Afinal, o mundo real é composto por Estados que competem entre si, como gostam de lembrar os mais fiéis adeptos das teorias realistas de Relações Internacionais. Portanto, nada haveria a esperar de diferente que a competição desses Estados pela sobrevivência de suas próprias populações.

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Talvez seja então o caso de se chamar ao debate outro antigo professor, este sim um dos maiores expoentes da escola realista. Ex-secretário de Estado dos Estados Unidos, Henry Kissinger, aos 96 anos de idade, acaba de publicar um artigo intitulado A pandemia do corona vírus vai mudar para sempre a ordem mundial.

“Líderes estão lidando com a crise principalmente sob o ponto de vista nacional, mas os efeitos destrutivos do vírus não conhecem fronteiras”, adverte Kissinger no texto publicado em sua página oficial na Internet. “Enquanto o assalto à saúde humana será – esperamos – temporário, as agitações políticas e econômicas (causadas pela pandemia) poderão durar por gerações”.

Para o diplomata, nenhum país, nem mesmo os Estados Unidos, pode superar a pandemia de forma isolada. “Devemos lidar com as necessidades do momento juntamente com uma visão e um programa colaborativos globais”, sugere Kissinger.

 

Marcos Magalhães. Jornalista especializado em temas globais, com mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de Southampton (Inglaterra), apresentou na TV Senado o programa Cidadania Mundo. Iniciou a carreira em 1982, como repórter da revista Veja para a região amazônica. Em Brasília, a partir de 1985, trabalhou nas sucursais de Jornal do Brasil, IstoÉ, Gazeta Mercantil, Manchete e Estado de S. Paulo, antes de ingressar na Comunicação Social do Senado, onde permaneceu até o fim de 2018.

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