Semana passada, falei de uma volta ao engenho Penderama. Onde nasceu meu velho pai. E da saudade que ainda hoje rói, por dentro. Leitores responderam, reproduzindo situações que aconteceram também com eles. Por acreditar que o melhor, no ofício de escrever, é a relação com quem lê, seguem alguns depoimentos:
“Bentinho (Dom Casmurro) também quis ligar as duas pontas da vida. Faltavam os outros mas, sobretudo, faltava ele mesmo”. Admaldo Matos, escritor.
“Já me programei várias vezes para voltar ao engenho Pureza, na mata Sul, onde convivia com matas e livros de Monteiro Lobato. Sempre saio dessas visitas com a percepção de que o mundo em que vivi, menino, foi apenas um sonho”. Ângelo Castelo Branco, jornalista.
“Todos temos nosso Penderema. O meu talvez seja um baú inexistente, cheio de fitinhas de cores diferentes, cada uma representando lembranças de tempos idos”. Gentil Porto, médico.
“O passado é insuportável. Um retrato de faltas. Ausências. Perdas. Você é corajoso: consegue rever, transcrever. Eu sou um covarde! Sequer olhei para casa de meus pais, no bairro da Torre. Quando passo pela Igreja de lá, não olho para o entorno. Teimo, em vão, não olhar para a paisagem desfigurada. Me agarro a lembrança, o resto da vida, que só desaparecerá quando afinal morrer o menino…”. Gustavo Krause, escritor.
“Linda homenagem ao Velho, José. Que, se onde estiver houver internet, ficará profundamente feliz”. Respondi: “Acho difícil. Internet no céu…”. E ele: “Também acho. Mas como se trata de área desconhecida, pelo menos para nós que ainda estamos do lado de cá, quem sabe?????”, Inaldo Sampaio, jornalista.
“Meu pai morreu longe de mim/ (eu é que estava longe dele)./ Tantos anos se passaram/ E ainda não lhe vi a sepultura./ Continuo longe./ Mas sua presença me sacode/ Como um choque elétrico,/ Uma bebida forte que me arde/ Por dentro./ Está vivo nos meus dedos,/ Nos cabelos ralos/ – A nuca, dá arrepios de se ver./ Está cada vez mais perto de mim/ (eu é que estou mais perto dele)”. Ivo Barroso, tradutor.
“Caro amigo, consigo em Penderama”. Manuel Alegre, poeta português.
“E nem assim; porque tantos/ De ler os versos do menino/ Criam, nos seus próprios engenhos mentais,/ Ramos de estórias imaginárias/ Que, se pudessem, teriam vivido/ Nem que fosse/ Só para um dia/ Morrer… de saudade”. Silvio Meira, gênio.
José Paulo Cavalcanti Filho