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Os três generais patetas e o capitão aloprado

Contradições enfraquecem a linha de defesa de Bolsonaro

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 30 jul 2020, 18h56 - Publicado em 14 Maio 2020, 08h00

O disse não disse sobre o que de fato o presidente Jair Bolsonaro disse na reunião ministerial de 22 de abril último, catapultou para a boca do palco da crise política ora em curso a trinca poderosa de generais ministros que dão expediente no Palácio do Planalto.

Os conselhos que receberam sobre a melhor maneira de se comportarem diante dos inquisidores, as horas gastas vendo e revendo a gravação em vídeo da reunião, o acerto sobre o que cada um diria, nada bastou para que contassem a mesma história.

Braga Neto (Casa Civil), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) avalizaram a versão de que Bolsonaro se queixou de falhas na sua segurança pessoal no Rio. Nada a ver, pois, com a Polícia Federal.

Mas, em seguida, divergiram em detalhes que põem a versão em dúvida, o que enfraquece a principal linha de defesa do presidente. Ao afirmar que Bolsonaro revelou a intenção de trocar “a segurança” no Rio, Braga Neto entendeu que se tratava da segurança pessoal.

Ora, quem cuida da segurança pessoal de Bolsonaro, no Rio ou em qualquer outro lugar, é o Gabinete de Segurança Institucional a cargo do general Heleno, e não a Polícia Federal. O ex-ministro Sérgio Moro teria entendido tudo errado e por isso foi embora?

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Heleno não falou em intenção de troca no depoimento que prestou. Disse que era só um exemplo dado por Bolsonaro na ocasião:

– O presidente menciona o exemplo de sua segurança pessoal, que, se estivesse falha, iria trocá-la, e que se não conseguisse, trocaria o chefe, podendo chegar ao diretor e até o ministro.

Que se estivesse falha? Estava falha ou não? Era uma mera hipótese?

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Nem perguntaram a Heleno, nem ele teve a iniciativa de explicar a que diretor Bolsonaro se referia. E a que ministro. Certamente não seria ao diretor da Agência Brasileira de Inteligência, o delegado Alexandre Ramagem, subordinado a Heleno.

Ramagem era homem de confiança de Bolsonaro. Com ele despachava diariamente. Bolsonaro quis pôr Ramagem no lugar de Maurício Valeixo, o delegado que ele demitiu da direção-geral da Polícia Federal contra a vontade de Moro.

Na sua vez de ser interrogado, general Luiz Eduardo Ramos só fez aumentar a confusão. Segundo contou, no momento em que Bolsonaro se queixava de falhas na sua segurança pessoal no Rio, olhou na direção de Heleno. Não olhou na direção de Moro.

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Ramos fez duas retificações no seu depoimento depois de prestá-lo. A primeira: ele havia dito que Bolsonaro durante a reunião não mencionou o superintendente da Polícia Federal no Rio, tampouco o diretor-geral. Preferiu que contasse apenas que ele não se lembrava disso.

A segunda retificação: Ramos negara que Bolsonaro tivesse dito que se não trocassem o superintendente da Polícia Federal no Rio ou o diretor-geral, ele mudaria o ministro da Justiça. Preferiu que contasse que ele apenas também não se lembrava disso.

Resumo da ópera bufa: a acreditar no que disse a trinca de generais, a saída de Moro do governo não passou de uma grande trapalhada. Um mal entendido. Quanto às demissões do diretor-geral da Polícia Federal e do superintendente no Rio… Não explicaram.

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Não explicaram por que Moro abandonou a reunião ministerial diante da repreensão pública que julgou ter levado do presidente. Nem explicaram por que não conseguiram impedir Moro de se demitir se tudo na verdade não passara de um mal entendido.

Para evitar mal entendidos e trapalhadas futuras, Bolsonaro anunciou o fim das reuniões ministeriais. Doravante, despachará com cada ministro em separado. E nenhuma reunião será gravada.

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