
A semana começou com dias difíceis para a economia mundial. As principais bolsas do planeta sofreram quedas expressivas em decorrência direta do avanço do coronavírus na China. Não apenas as bolsas desabaram, mas também o preço de diversas commodities como minério, petróleo e carne bovina. No Brasil, só na 2ª feira, o Ibovespa caiu 3,29% e gigantes como Vale e Petrobras perderam 34 bilhões no seu valor de mercado. A 3ª feira foi mais um dia de agonia com queda das bolsas em toda a Ásia e na Austrália, mas, ao seu final, as bolsas da Europa e a brasileira tiveram uma leve recuperação.
A possibilidade de uma desaceleração da economia em escala planetária tornou-se mais próxima com o reconhecimento da Organização Mundial da Saúde de que havia subestimado o coronavírus, aumentando o seu risco de moderado para elevado. Quando a OMS adota essa classificação é sinal de que um surto pode se transformar em epidemia.
As autoridades chinesas estão perdendo a batalha para isolar o vírus em Wuhan, epicentro do surto. Já são mais de 130 mortos, quase 6 mil infectados e treze países atingidos. Como na China os números são hiperbólicos, para os próximos dias já há previsões de mais de cem mil pessoas com a gripe.
A importância da China é de tal ordem que tudo o que acontece por lá coloca o mundo em alerta. Não é difícil imaginar o impacto de medidas drásticas como ampliar as férias coletivas de trabalhadores, adiar as aulas nas universidades e escolas, ter fronteiras, portos e aeroportos fechados; além da proibição da circulação de pessoas. Esse é o drama que afeta o país e pode contaminar a saúde e economia do planeta.
A economia mundial já vinha dando sinais de desaceleração, o que vai ocorrer mais fortemente caso a doença se alastre. Isto afetará as exportações e importações chinesas, o turismo e os investimentos. A China pode não honrar compromissos, como o que fez com Donald Trump, de importar produtos americanos na ordem de 200 bilhões de dólares.
Ainda que mantenha um ritmo de crescimento significativo, ele não se dá mais na casa de 10%, como o era em 2003, quando ocorreu outra síndrome de doenças respiratórias provocada por outro tipo do coronavírus. À época, as exportações chinesas cresceram 35%, em 2019 cresceram apenas 0,5%. Com o avanço da doença este índice pode ser ainda menor em 2020. O mesmo acontecerá com as importações.
Se para o mundo uma eventual desaceleração da economia chinesa é preocupante, para o Brasil será um duro golpe justamente no momento em que nossa economia dá sinais de recuperação, ainda que modestos. A China é nosso principal parceiro comercial, mercado essencial para o agronegócio e a mineração.
Os chineses também são estratégicos para os investimentos no Brasil, particularmente na área de infraestrutura. No ano passado o presidente da China Xi Jimping acenou com números na casa de 100 bilhões de dólares. Esse apetite pode arrefecer e obras como a ferrovia Norte-Sul e a ponte Itaparica-Salvador podem ser afetadas.
No horizonte do médio prazo, a tendência de juros baixos pode ser frustrada, por meio de sua elevação para conter a fuga de investidores ou de poupadores para o dólar. Em tempos de grandes incertezas, a moeda americana é o porto seguro de muita gente.
O momento é de muita cautela e prudência. Em tempos de globalização, as epidemias também se globalizam. Impossível detê-las sem a cooperação de todas as nações. É preciso evitar o pânico mas ficar atento aos efeitos perversos do vírus que abala o mundo.
Hubert Alquéres é membro da Academia Paulista de Educação, do Conselho Estadual de Educação e da Câmara Brasileira do Livro. Escreve toda 4ª feira no Blog do Noblat.