Texto do dia 19/05/2005
Do discurso pronunciado esta tarde pelo senador Cristovam Buarque (PT-DF):
“Este ano completamos 20 anos de democracia. Qual foi a resposta que demos ao povo para justificar a existência de uma democracia, além da necessária liberdade de que precisamos aqui?
A liberdade é uma condição fundamental à democracia, mas não é condição suficiente. Não adianta, nem sobrevive democracia que não for capaz de dar respostas aos problemas do povo. E não resiste democracia cujo governo não tiver a legitimidade de cumprir algumas condições.
A primeira condição é a de manter a economia funcionando. E o governo do Partido dos Trabalhadores, do meu Partido, a meu ver, com todas as dificuldades, está cumprindo esse lado.
A segunda, é cumprir as promessas assumidas na campanha. Aí cometemos algumas falhas: ou porque o Governo não as cumpre ou porque não explica por que não cumpre. O povo vai ficando impaciente diante de promessas não-cumpridas.
A terceira condição é a de fazer as reformas sociais que o nosso País precisa. Quando vemos problema arrebentando na Bolívia, no Equador, na Argentina há algum tempo, é preciso ouvir o aviso que vem das”calles” (ruas) desses países.
O aviso de que o povo não espera eternamente diante do show democrático dos políticos se não houver uma mudança concreta na realidade das condições de vida. E não estamos fazendo essas reformas.
O quarto é passar com clareza a idéia de que somos um governo honesto. A corrupção não apenas deteriora o governo, mas transforma a impaciência do povo em rebeldia, e a rebeldia, em revolução. E, às vezes, sem esperar, acordamos num clima de conturbação.
O slogan na Bolívia, no Equador e na Argentina era que se”vayan todos”, em espanhol. Ou seja, que não fique nenhum. Não faziam diferença entre situação e oposição.
Esse é um risco que podemos estar começando a viver. O povo está impaciente nas ruas. Para onde nós, líderes brasileiros, queremos levar este País? Onde queremos definir que esteja o Brasil em 2022 quando estivermos completando o segundo centenário da República?”