O Congresso mais reformista de todos os tempos, pelo menos assim o enxerga Davi Alcolumbre (DEM-AP), seu presidente, dará um jeito de desidratar ao extremo o pacote de medidas econômicas levadas em mão, ontem, pelo presidente Jair Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes, o todo poderoso xerife da Economia. Sem chances de elas serem aprovadas tal qual.
De fato, não se trata de um pacote como tantos que o país já viu. Trata-se da proposta mais ampla e irrestrita de redesenho do Estado, algo a provocar uma ruptura que só seria possível a princípio mediante a convocação de uma Assembleia Constituinte. A última foi de 1988. Não há sinais de que se tenha outra em breve.
Assim como não é um pacote, também não é um programa de governo para ocupar apenas os anos que faltam para que se esgote o mandato de Bolsonaro. Como pareceu a senadores e a deputados experientes, estaria mais para a apresentação de quem se oferece desde já como uma nova perspectiva de poder. Quem? Guedes.
Bolsonaro não está nem aí para essas coisas. Quer apenas que a economia deslanche para que ele possa lutar melhor pela reeleição. O atual é um governo dividido em dois: o de Bolsonaro, ocupado em assombrar o país com o fantasma da volta da esquerda, e o de Guedes preocupado em fazer valer as suas ideias.
Com ou sem Bolsonaro e Lula, a eleição de 2022 será muito diferente da passada. Não haverá outro Adélio que dispense Bolsonaro de fazer campanha, de ter que correr atrás de votos e de ter de contar com o apoio de uma forte estrutura partidária. E se a saúde de Bolsonaro permitir é o que ele será obrigado a fazer.
Se não permitir ou se ele não quiser, Guedes poderá receber a benção dele e o apoio entusiástico de um mercado que pensa como ele. Não só do mercado, também dos devotos do capitão. Guedes não terá dificuldades para atrair essa gente. Vez por outra quando se vê tentado a falar sobre política, tem rasgos de Bolsonaro.
Bolsonaro, Guedes e… Moro. Que agrupamento político e ideológico dispõe, hoje, de tantas alternativas para 2022? Bolsonaro e Guedes. Bolsonaro e Moro. Guedes e Moro ou o contrário. Alucinação? Por que seria? Em meados do ano passado, a vitória de Bolsonaro parecia uma alucinação.