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Feliz aniversário, Pequeno Príncipe

Memórias do blog

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 7 abr 2018, 12h00 - Publicado em 7 abr 2018, 12h00

Texto do dia 07/04/2011

Era uma vez um francês que media quase 2 metros de altura, falava português com um sotaque carregado, vestia-se de maneira sóbria e elegante e sabia ser gentil com as pessoas. Um sedutor!

Dono de vasta cultura e de uma memória prodigiosa, sentia-se particularmente estimulado quando lhe pediam para falar de um velho amigo – Antoine-Jean-Baptiste-Marie-Roger Foscolombe de Saint-Exupéry.

– Ah, como foram quase sempre agradáveis nossos voos solitários sobre o Atlântico – divagava melancólico.

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E lembrava sobre o quê conversavam. Contava histórias de países exóticos que haviam conhecido juntos. E até se permitia cometer algumas indiscrições sobre determinados hábitos de Saint-Exupéry.

– Meu velho amigo se tornou um dos homens mais famosos do mundo – declamava orgulhoso.

E, provocado, citava de cor trechos inteiros do livro que imortalizou Saint-Exupéry, O Pequeno Príncipe, que ontem completou 68 anos desde que foi publicado pela primeira vez .

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Na França? Não.

Nos Estados Unidos, em inglês e francês, no dia 6 de abril de 1943. Na França, a primeira edição só saiu em 1946. Saint-Exupéry estava morto. Hoje, o livro pode ser lido em 250 línguas e dialetos.

Pois é. Envelheceu o sábio menininho de cabelos louros cacheados que cativou tantas gerações desde então.

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Em 1968, o tal amigo de Saint-Exupéry estava no Recife, paparicado pela alta sociedade, na condição de comandante da Varig encarregado da inauguração do voo que ligaria a cidade a Paris.

Fora hóspede do luxuoso Grande Hotel. Estava hospedado no Hotel São Domingos quando o entrevistei para o Jornal do Commercio a pedido de Vladimir Calheiros, editor-chefe do jornal.

Antes de entrevista, reli O Pequeno Príncipe, li Voo Noturno, do mesmo autor, e consultei tudo o que havia sobre Saint-Exupéry em duas pastas do Departamento de Pesquisa do jornal.

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A entrevista ocupou a capa do Caderno 2 com direito à chamada na primeira página do jornal.

O francês telefonou no mesmo dia elogiando minha fidelidade ao que ele dissera. Por fim, convidou-me para o voo inaugural da rota Recife-Paris.

Paris!!!

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Eu só voara uma vez na vida – assim mesmo entre Recife e Salgueiro, alto sertão de Pernambuco. Uma viagem de menos de uma hora num desconfortável avião do Exército destinado a paraquedistas.

Tinha 18 anos.

O jornal concordou com a viagem a Paris. Exultante, tirei passaporte. Consegui roupa de frio emprestada por amigos. E por fim procurei a gerência da Varig para saber a data do voo.

A gerência da Varig procurava o tal francês desde o dia da publicação da entrevista.

Ele dera um cano nos hotéis onde se hospedara. Enganara as muitas pessoas que o recepcionaram. Não era francês – era argelino. Não era comandante da Varig. Tampouco a Varig pretendia inaugurar a rota Recife-Paris.

Se tinha sido amigo de Saint-Exupéry, não se sabia. Jamais se soube.

Sempre que leio alguma notícia sobre O Pequeno Príncipe me lembro do grande e fascinante vigarista que conheci.[Não foi o único.}

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