Mariana não serviu como lição. As feridas abertas por Brumadinho sangram. Os sonhos dos jovens atletas do Flamengo foram carbonizados. Um sofrimento sem fim. Em comum, os episódios revelam o jeitinho das gambiarras, a face mais visível de cultura da imprevidência.
Na manhã da terça-feira, 13 de março, a notícia em tempo real mostrou o massacre da Escola Raul Brasil, na cidade de Suzano, SP. O espaço destinado à formação de crianças e jovens transformou-se no cemitério de esperanças. Os autores da funesta obra portavam arma de fogo, machadinhas, arco e flecha, um arsenal que revela a evolução da “arte” de matar.
Veio à minha lembrança a ocorrência de quatro crimes da mesma natureza, made in Brazil, entre 1999 e 2018, país que, em 2016, registrou a marca inacreditável de mais de 63 mil homicídios. Em comum, os episódios revelam as marcas profundas da cultura da violência.
Entre tragédias, a vida segue. E segue, carente da proteção mínima do Estado e sob a ameaça real de um padrão de comportamento que atenta contra o inestimável valor da existência humana. Perplexas, as pessoas se perguntam: por que?
De fato, não há respostas simples para um problema de raízes tão profundas e com efeitos tão perversos. Embora importantes, as políticas públicas de combate à violência não se esgotam no efetivo e frontal combate à delinquência: é fundamental uma convergência entre agentes públicos e privados na restauração e na consolidação de uma cultura de paz.
Neste sentido, a família e a escola são o berço da cultura de paz; sua dinâmica social é movida pelo respeito ao outro e pela convivência com as diferenças; e o espaço político da cultura da paz é a democracia que assegura a liberdade e a igualdade de todos perante a lei.
Por sua vez, palavras, gestos e símbolos constituem a expressão da cultura da paz. A pomba branca, mãos entrelaçadas e um singelo bom dia se bastam. No entanto, com as palavras, todo cuidado é pouco. Quando se trata da retórica política, as palavras têm poder de unir e separar, de acalmar os espíritos ou de incitar os demônios do conflito. Para realizar o bem coletivo, os chefes de estado têm o dever de explicar e a responsabilidade de convencer os governados.
Na sintaxe da cultura da paz, convém lembrar, enquanto os muros agridem, as pontes aproximam pessoas e nações.
Gustavo Krause é ex-ministro da Fazenda