Em busca de um guru econômico
A economia está no centro das preocupações de todos, uma vez que se trata de um ano cheio de tensões de natureza fiscal e de expectativas de reformas
Estamos a oito meses do início formal da campanha eleitoral para presidente, mas em plena temporada de designação do coordenador econômico dos pré-candidatos. A escolha do ex-presidente do Banco Central Pérsio Arida por Geraldo Alckmin repercutiu como se o São Paulo Futebol Clube tivesse anunciado a contratação de seu técnico para o campeonato deste ano.
O motivo é a situação da economia, em estado de recuperação, mas dependente de um futuro condutor que mantenha as conquistas do presente e avance em respostas às dúvidas que se colocam em relação à reforma da Previdência, dívida, retomada dos investimentos etc.
A maioria de pelo menos uma dezena de pré-candidatos, neste fértil ano eleitoral de 2018, já anunciou o nome do responsável pela política econômica que está desenhando. O nome significa o rumo que o candidato vai tomar – estado forte ou estado mínimo; mais ou menos impostos; consumismo ou equilíbrio fiscal.
Lula é o pré-candidato com maior número de possíveis ministros da Fazenda, de Nelson Barbosa, com quem trabalhou nos seus governos, a Luciano Coutinho e Luiz Gonzaga Beluzzo. Jair Bolsonaro aproximou-se de Paulo Guedes, liberal radical que dá formato à proposta do deputado; Marina Silva resgatará dois conselheiros de 2014 – André Lara Resende e Eduardo Giannetti, este na verdade um filósofo que pensa a economia; e Ciro Gomes vai de Bresser Pereira e Mangabeira Unger.
Henrique Meirelles dispensa quem o apresente ao mercado e João Doria dialoga com Ana Carla Abrão Costa, mulher de Arida. Se Luciano Huck acabar concorrendo, como muita gente acha que acontecerá, seu ministro da Fazenda será Armínio Fraga. Joaquim Barbosa, outro cujo destino não é preciso, e Rodrigo Maia, que quer muito a Presidência, ainda não têm conselheiro econômico conhecido publicamente.
É muito importante que tenham logo, pois pelo menos Maia está de viagem marcada para os Estados Unidos, onde querem conhecer o que ele fará se chegar à principal cadeira do terceiro andar do Palácio do Planalto. É importante levar os investidores a sério e uma chance como essa não pode ser desperdiçada.
Não falamos aqui de Michel Temer, um nome que se confirmar o êxito econômico que tem tido até agora dificilmente não trabalharia para estar na urna eletrônica de outubro. Ele também está com agenda internacional pronta, mas para a Europa. Deve ir a Davos, na Suiça, onde os chefes de estado se exibem anualmente contabilizando seu desempenho econômico.
A economia está no centro das preocupações econômicas de todos, uma vez que se trata de um ano cheio de tensões de natureza fiscal e de expectativas de reformas. Além disso, a agonia jurídica de Lula, que começa a ser julgado dentro de duas semanas, é uma das principais causas da volatilidade que o mercado deverá viver nos próximos dias.
A outra é a divisão do centro político, sem que se vislumbre alguém com força política centrípeta suficientemente intensa para atrair alianças, poder e sinalizar a vitória, diante de uma polarização esquerda-direita que acabará exaurindo os dois principais candidatos hoje.
O ano começou com bons resultados na bolsa e tranquilidade no campo da inflação, mas espera-se uma nuvem de incertezas diante das características do pleito – excesso de nomes, imprecisão a respeito das chances de cada um, ausência de um perfil vencedor. O principal candidato alimenta-se de uma campanha capaz de torná-lo um coitadinho que não pode nem ficar fora do pleito nem deixar de vencer. É o tipo de cenário que não deixa ninguém em paz.
Murillo de Aragão é cientista político