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Congresso está pronto para virar um puxadinho do Planalto

O avanço de Bolsonaro sobre as demais instituições

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 19 mar 2021, 00h30 - Publicado em 28 jan 2021, 08h00

A menos de dois anos das próximas eleições gerais, deputados e senadores fazem qualquer negócio na tentativa de assegurar um novo mandato, e o governo federal se vale disso para emplacar homens de sua confiança nas presidências da Câmara e do Senado. Salvo uma guinada de última hora, terá êxito.

É cedo ainda para dizer que a popularidade do presidente Jair Bolsonaro está ladeira abaixo. As pesquisas de opinião a serem aplicadas lá para o final de fevereiro confirmarão ou não o que as mais recentes indicaram. Mas como o Congresso habita um mundo paralelo, para ele tanto faz como fez.

Meu mandato primeiro, o resto que se dane! Inclua-se o país no resto. Bolsonaro passou quase 30 anos como deputado federal, e se não aprendeu por lá grande coisa, aprendeu que a maioria dos seus colegas, ou quase todos, tem um preço. Quem pagar leva. A moeda são cargos, dinheiro para obras e toda sorte de sinecuras.

Não foi preciso que deputados e senadores metessem o pé para forçar a abertura dos cofres públicos – Bolsonaro mandou abri-los, uma vez que não entende isso como corrupção, como seus antecessores, uns mais, outros menos, também não entendiam. E como a oposição nesta terra abençoada por Deus inexiste…

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Atraiu também a oposição. Os candidatos do governo poderão ser eleitos com o apoio da oposição sem votos e incapaz de resistir aos encantos de quem detém o poder. E Bolsonaro não só detém como tem sabido ampliá-lo, atropelando regras se necessário, atropelando como um governante autoritário, que é o que ele é.

O Congresso sob seu controle, se isso acontecer, se juntará a um ministério emasculado, à servil Procuradoria-Geral da República, a um ministro da Justiça do Brasil rebaixado à condição de ministro de Bolsonaro, à Receita Federal, à Polícia Federal e à Agência Brasileira de Informação (Abin) que já foi um órgão de Estado.

Não haverá impeachment por mais que se peça. Nem CPI da pandemia. Os processos contra os filhos do presidente continuarão devagar, quase parando. Por que Queiroz depositou 89 mil reais na conta de Michele seguirá sem resposta, bem como a investigação sobre os bolsonaristas financiadores de atos antidemocráticos.

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Em setembro, dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal, dois já terão sido nomeados por Bolsonaro. Antes disso, com o voto do primeiro deles, Nunes Marques, é possível que Lula seja liberado para se candidatar a presidente. A Bolsonaro interessa que seja, para que possa depois ameaçar o país com a volta do comunismo.

Quanto aos trágicos erros que cometeu até aqui, sendo o mais grave deles a parceria com o vírus para salvar a economia à custa da morte dos que tivessem de morrer, Bolsonaro não liga. Porque acha – e com razão – que seus devotos fiéis e desinformados também não ligarão no Dia D e na Hora H de irem às urnas.

O Brasil profundo tem a cara da Record e do SBT, não da Globo. Torce por Bolsonaro como se torce por um time de futebol. Considera-o um ídolo, assim como um cantor de música sertaneja que faz sucesso. Detesta política e pensa que ele também detesta. Defende a democracia, mas não entende como ela funciona.

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No passado votou no caçador de marajás, no homem do Real, no sapo barbudo e no capitão que prometia fuzilar os sapinhos. Ainda poderá votar no moço do caldeirão que costuma fazer caridade pública, é casado com aquela moça linda, de olhos azuis, que estourou nas paradas cantando “Eu vou de táxi”, lembra?

  • Leia também: O inimigo dentro de casa: o novo embate entre o Planalto e o Coaf
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