É de conhecimento público. Tem muita coisa estranha nos trópicos. Tantas que já nem engraçado é. É simplesmente triste. Vamos combinar que passar a semana discutindo se houve ou não ditadura é gastar energia admitindo a possibilidade de negação do obvio.
Discutir fato histórico indiscutível é coisa para quem não tem o que fazer. Exercício rematado de perda de tempo. Pior ainda, tempo este que não temos. E distração desnecessária e predatória.
Só existem duas explicações para nossa capacidade de embarcar em diversionismos inúteis. Pode ser problema clínico. É possível, muito embora improvável, que sejamos uma nação com déficit de atenção coletivo. Talvez a água tropical contenha algo que embaralhe o senso de prioridade.
Se for proposital, é apenas desculpa ou cortina de fumaça para encobrir o incontável numero de problemas e prioridades que nos faltam resolver. A gente que vem empurrando as reformas a golpes de barriga, vê escapar por entre os dedos a oportunidade de enriquecer (ou pelo menos dar uma melhoradinha) em função do bônus populacional.
Não é nada, não é nada, nossa inaptidão ao diálogo político e incapacidade de criar consenso em torno de uma agenda de prioridades mínimas já consumiu quase toda a oportunidade que a demografia nos deixou cair no colo.
Continuamos a envelhecer sem enriquecer. E, pior, sem a perspectiva de acelerar nosso crescimento no horizonte previsível. Alguns chamariam isso de visão pessimista. Outros simplesmente de desastre anunciado. Mas todos no final concordam que o que se anuncia é final de tragédia grega.
Não caiu a ficha ainda. A esta altura, ou a ficha ficou empacada em algum lugar ou o telefone é digital mesmo. De uma maneira ou de outra, a gente parece nunca querer ou lembrar de falar do que interessa. Do que é importante.
Talvez porque seja desagradável. Talvez porque exija sacrifício. Mas certamente porque a gente esta desacostumado com a noção de que ser cidadão confere, sim, direitos. Mas também exige responsabilidades. A maior delas é cuidar para que a democracia não degenere em caos nem em autoritarismo.
Vivemos tempos tóxicos. Somos ou estamos incapazes de melhorar o futuro. Não pensamos nas próximas gerações e no legado que deixaremos. Deveríamos, ao invés, adotar atitude mais generosa. Pensar e agir para garantir melhores condições as gerações futuras. Plantando árvores embaixo das quais as gerações futuras poderão se refrescar. Honraríamos assim o nosso compromisso com a posteridade. Os jovens de hoje e amanhã agradariam.
Elton Simões mora no Canadá. É President and Chair of the Board do ADR Institute of BC; e Board Director no ADR Institute of Canada. É árbitro, mediador e diretor não-executivo, formado em direito e administração de empresas, com MBA no INSEAD e Mestrado em Resolução de Conflitos na University of Victoria. E-mail: esimoes@uvic.ca .