O cineasta Silvio Tendler reuniu amigos das artes, das ciências, do pensamento e do ensino e criou um movimento batizado como Estados Gerais da Cultura – EGC.
O objetivo é sair da catatonia, resume Silvio. “É parar com esse estado de não fazer nada, inanimados, cada um no seu cada qual, vendo a boiada passar. Estamos propondo uma reorganização da cultura, desmantelada por eles – governo.”
O propósito primeiro é reconstruir o Ministério da Cultura como real organismo Estado.
O movimento é aberto e, desde julho, faz reuniões online nos finais de tarde de domingo, quando apresentam temas relativos à cultura e ao conhecimento, seguidos de debate.
A live do último domingo, dia 6, foi invadida pelos minions do capitão-presidente.
Com propagandas e imagens do JMessias, e até de Regina Duarte, palavrões e insistentes manifestações de desejo de sexo anal – eles têm fixação nisso, né? – a invasão embarreirou a fala do professor José Bessa, convidado do dia, que apresentaria o tema: O lugar dos povos indígenas nas políticas culturais do Brasil.
– Estamos incomodando. Fomos reconhecidos pelo adversário. Passaram recibo, devolve Silvio, rindo. E relembra história do poeta Ferreira Gullar que, nos idos de 1960/70, convidado a entrar para a luta armada, rebateu: Eu lá vou pegar em revolver, eu lá sei atirar? Minha arma é a palavra, são as ideias. Nisso somos mais forte que eles.
– É isso. Invadiram porque têm medo de ideias. São só as hienas raivosas de sempre. Também são fregueses. Acabam sempre derrotadas pela resistência das palavras, do pensamento, das ideias. É histórico.
O cineasta carioca é compulsivo resistente, atrevido e incisivo. Cadeirante, diabético, trabalha sem parar. Faz um filme atrás do outro, documentando momentos ou personagens – célebres ou não – da História do Brasil e/ou as cinesias do mundo.
Humanista e socialista, não abre mão da militância política no lado esquerdo do mundo, da vida. Sempre a todo vapor, ignorando a respiração curta de um pulmão só.
– Dizem que eu sou louco. Mas minha loucura é sadia. E eu não to sozinho. Se juntar todo mundo na mesma casa, por pior que seja a madrasta, vamos nos reorganizar.
O movimento Estados Gerais da Cultura, reunindo resistentes Brasil adentro, trabalha para criar uma Escola Superior da Paz. Antagonista da velha Escola Superior de Guerra, já tem reitor indicado. Célio Turino, historiador e escritor.
Na seara dos contrários às guerras e ao ódio, os insistentes sonhadores da EGC planejam instituir Doutrina da Segurança Emocional, capaz de oferecer qualidade de vida e bem estar para todos. Também constituir Forças Amadas da Paz para atuar por paz e tranquilidade nas comunidades conflitadas e desrespeitadas das periferias brasileiras.
E, em contraposição à tradicional medição do Produto Interno Bruto (PIB), pretendem organizar um Índice de Qualidade de Vida, aferindo acessos à agua potável, esgotos, casas aeradas, transporte público de qualidade, escolas, saúde, cultura e entretenimento.
Nada é pequeno no projeto de atuação do movimento Estados Gerais da Cultura que, embora ainda atuando no campo da palavra e das ideias, já mereceu repressão virtual tão a gosto dos soldados-minions. Gente que, no campo real, presencial, e reunida em turbas, vai além dos latidos na internet. Costuma bater pra arrebentar.
Não intimidam os militantes do EGC.
– Venceremos pela ação da Escola Superior da Paz e das Forças Amadas. É um movimento louco? Bendito os loucos. Eles herdarão a razão, confia Silvio, repetindo texto de Glauber Rocha, no filme a Idade da Terra.
Tânia é jornalista