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“As Palavras”

Psicanálise da Vida Cotidiana

Por Carlos de Almeida Vieira
Atualizado em 30 jul 2020, 19h16 - Publicado em 4 dez 2019, 12h00

Tomo como nome desse escrito As Palavras, um título de um livro de Jean-Paul Sartre, escrito em 1963/64, após receber o Prêmio Nobel de Literatura, o qual fez questão de não aceitar, em protesto contra a sociedade burguesa. No livro, Sartre divide em dois ensaios, o primeiro: LER; e o segundo, ESCREVER. Inspiro-me no primeiro texto para levantar algumas questões sobre a importância de se ler em relação ao crescimento individual de uma pessoa, e de que a leitura é fundamental na formação cultural de um povo.

Ler é parte da ação do impulso ao conhecimento, força essa de natureza constitucional. Ler é uma brincadeira gostosa, que desde criança somos estimulados ou não a exercitar. Os livros, que Sartre descreve de um modo de prosa poética: “Comece minha vida como hei de acabá-la, sem dúvida: no meio dos livros. No gabinete do meu avô, havia-os por toda parte; era proibido espaná-los, exceto uma vez por ano antes do reinício das aulas de outubro. Eu ainda não sabia ler, e já reverenciava essas pedras erigidas: em pé ou inclinadas, apertadas como tijolos nas prateleiras da biblioteca ou nobremente espacejadas emaléias de menires, eu sentia que a prosperidade de nossa família dependia delas. Elas se pareciam todas; eu folgava num minúsculo santuário, circundado de monumentos atarracados, antigos, que me haviam visto nascer, que me veriam morrer e cuja permanência me garantia um futuro tão calmo como o passado. Eu os tocava às escondidas para honrar minhas mãos com sua poeira, mas não sabia bem o que fazer com eles e assistia todos os dias a cerimônias cujo sentido me escapava: meu avô – tão canhestro, habitualmente, que minha mãe lhe abotoava as luvas- manejava esses objetos culturais com destreza de oficiante.” Os livros, quis dizer Sartre, são a pedra fundamental da cultura; os objetos culturais; a via de acesso ao conhecimento e à saída da ignorância e do analfabetismo.

Sartre, como Proust e outros autores, inclusive Michèle Petit, em seu livro A arte de ler, são unânimes a proclamar que a leitura, o ler, os livros são o fundamento da ordem cultural, educacional e política de uma população. Ainda Michèle Petit em seu livro nos afirma que: Mais do que a decodificação dos textos, mais do que a exegese erudita, o essencial da leitura era, ao que parecia, esse trabalho de pensar, de devaneio.  Esses momentos em que se levantam os olhos do livro e onde se esboça uma poética discreta, onde surgem associações inesperadas.” Há quem chame isso de “biblioterapia”, desenvolvida na América do Norte, na Europa do Norte ou na Rússia.

Ler é pensar, pensar é refletir sobre o Eu e o Coletivo, pensar é uma experiência emocional que se aprende com os Autores e com os personagens e seus conteúdos humanísticos e filosóficos.

Carlos de Almeida Vieira é alagoano, residente em Brasília desde 1972. Médico, psicanalista, escritor, clarinetista amador, membro da Sociedade de Psicanálise de Brasília, Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e da International Psychoanalytical Association 

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