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Aprendiz de Chávez

O Brasil está mais próximo da Venezuela chavista do que Guedes gostaria de admitir

Por Ricardo Noblat
6 mar 2021, 14h00

Editorial de O Estado de S. Paulo (6/3/2021)

Paulo Guedes é ministro da Economia, mas se dá melhor como comentarista de economia. Como se não estivesse há mais de dois anos à frente do “superministério” que tudo resolveria, e como se o presidente Jair Bolsonaro, que lhe deu o emprego, lhe fosse um desconhecido, Paulo Guedes vive a expressar críticas à condução e ao estado da economia nacional.

Em seus mais recentes comentários, o ministro Guedes alertou que, se o Brasil não seguir seus conselhos, caminhará celeremente para se tornar “uma Venezuela”. Numa entrevista ao podcast PrimoCast, ao condenar a possibilidade da adoção de um programa de auxílio emergencial sem uma contrapartida fiscal, Paulo Guedes declarou que seria uma forma de “empurrar o custo para outras gerações”. E enumerou os problemas: “Juros começam a subir, acaba o crescimento econômico, endividamento em bola de neve, confiança de investidores desaparece. É o caminho da miséria, da Venezuela, da Argentina”.

O ministro estaria coberto de razão, não fosse o fato de ele mesmo integrar, e na ribalta, o governo ao qual cabe articular politicamente a solução que evitaria tão pavoroso desfecho. A não ser, como está cada vez mais claro, que Paulo Guedes seja apenas um ministro honorário, a quem o presidente consulta de vez em quando só para manter as aparências, e não o superpoderoso herói liberal que Bolsonaro vendeu ao mercado na campanha eleitoral de 2018.

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O Brasil de Bolsonaro está mais próximo da Venezuela chavista do que o ministro Guedes gostaria de admitir. O presidente, que já expressou sua admiração pelo falecido caudilho Hugo Chávez, segue a cartilha do ditador venezuelano ao militarizar seu governo, ao aparelhar os órgãos de controle e fiscalização, ao tentar inocular no Judiciário a toxina bolsonarista, ao capturar parte do Congresso e ao se afundar no populismo explícito – intrometendo-se na formação de preços, obrigando estatais a trabalhar em favor de seus interesses eleitorais e jogando a população contra governadores e instituições que considera seus inimigos.

Guardadas as proporções, o assalto bolsonarista à Petrobrás é movido pelo mesmo espírito que levou o ditador Chávez a avançar sobre a PDVSA, a poderosa estatal do petróleo venezuelano. Bolsonaro, como Chávez, quer transformar a Petrobrás, maior empresa do Brasil, em esteio de sua demagogia.

Consta que o ministro da Economia não gostou nem um pouco da intervenção de seu chefe na Petrobrás, por razões óbvias, traduzidas pelo mau humor das bolsas, pela fuga de investimentos e pela desconfiança generalizada nos compromissos de Bolsonaro com o livre mercado. A desmoralização explícita de Paulo Guedes e de sua agenda liberal por parte do presidente deveria bastar para que o ministro afinal se desse conta da “venezuelização” do governo e pedisse as contas. Isso ainda não aconteceu, mas Paulo Guedes não escondeu seu desconforto.

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Questionado sobre o assunto, numa entrevista à Jovem Pan, o ministro contorceu-se para tentar explicar as razões da ingerência de Bolsonaro na Petrobrás. Admitiu que, “do ponto de vista econômico, o efeito foi ruim”, mas disse que “é compreensível do ponto de vista político”. E foi adiante: “Para o público caminhoneiro, que é um público associado ao presidente Bolsonaro, são eleitores típicos, fiéis do presidente Bolsonaro. O presidente deu uma satisfação. Ele diz: ‘Tirei o cara que disse que não liga para vocês (referindo-se ao presidente da Petrobrás demitido por Bolsonaro) e tirei todos os impostos (sobre o diesel)’”.

Em poucas palavras, o ministro da Economia admitiu que o presidente da República atropelou a governança da Petrobrás, ao arrepio dos interesses dos acionistas privados e das regras básicas da administração pública, somente para atender às reivindicações de eleitores “fiéis”, “típicos”, “associados” a Bolsonaro.

Assim, ouvimos da boca do ministro da Economia em pessoa que o presidente da República gerou imenso prejuízo para a Petrobrás e, consequentemente, para o País, porque precisava dar uma “satisfação” a um punhado de eleitores. Isso ainda não é a Venezuela, mas Hugo Chávez não ficaria decepcionado com seu discípulo hoje instalado no Palácio do Planalto.

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