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Por Coluna
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A páscoa de Marielle

Assim foram Anderson e Marielle.

Por Chico Alencar
Atualizado em 19 mar 2018, 14h01 - Publicado em 19 mar 2018, 14h00

“Um pranto se ouviu em Ramá, de choro sentido e lamentação: era Raquel a chorar seus filhos, e sem querer consolo, pois eles não mais existem”. O lamento de Jeremias, profetizando a passagem bíblica da matança dos inocentes, não me saiu da mente desde que recebi, atônito, a notíca do trucidamento de Marielle e de Anderson.

A ruptura drástica que todo assassinato sinaliza é sempre chocante e inconsolável. É preciso viver esse luto, essa perda imensa, intensa. Não há consolo para esse vazio, que avulta quando não ouvimos mais a voz da amada que se foi, quando não vemos mais o rosto sorridente do querido que nos foi tirado.

E ainda temos que suportar um segundo atentado contra Marielle: os estúpidos que “justificam” sua eliminação, disseminando o ódio contra quem luta contra preconceitos e exclusão. Esses truculentos aplaudem a invisibilidade em que são jogados, nesse país injusto, tantos que nasceram com o estigma da pobreza, da negação de oportunidades. Os que caluniam Marielle e suas bandeiras coerentes de vida e de luta – que são as nossas – terão que responder por sua hedionda apologia ao crime. São cúmplices de milhares de assassinatos! Como são os que caracterizam milícias como “autodefesa comunitária”. Como são os candidatos e partidos que negociam com elas, e com o tráfico despótico, o monopólio dos seus currais eleitorais. Essa súcia minoritária não é composta apenas pelos que se escondem no lixo da internet. Há supostas autoridades que também colocam a mortalha de sua intolerância como pano de fundo dessa cultura das sombras, do extermínio do que é diferente, da degeneração da democracia.

Mas as trevas nunca terão a última palavra! Nossas vidas, tão efêmeras, são um intervalo entre chegar e partir. Há aqueles que fazem dessa viagem um facho de luz: semeiam justiça, igualdade, solidariedade, direitos. São os que não se deixam engolir pelos contravalores dominantes do individualismo, do consumismo, do apego ao dinheiro. São os que descobrem que só sou porque nós somos.

Assim foram Anderson e Marielle. Nossa irmã tão generosa e batalhadora tinha exata noção da igualdade radical entre todos os seres humanos. Marielle foi eliminada porque nunca deixou de clamar contra a bárbara eliminação de tantos cujo dor não sai nos jornais. Marielle foi voz dos que não têm voz, por isso a silenciaram. Marielle foi vítima de morte tão precoce por amar demais a vida, sua gente, sua terra, nosso mundo. Por não aceitar o milhão de pessoas – na sua imensa maioria pobres, negras, jovens – morta a bala no Brasil dos últimos 20 anos.

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Mia Couto disse, com espanto, que “morto amado nunca mais para de morrer”. Cecília Meirelles foi ainda mais sábia: “Pousa sobre esses espetáculos infatigáveis/ uma sonora ou silenciosa canção:/ flor do espírito, desinteressada e efêmera./ Por ela, os homens te conhecerão./ Por ela, os tempos versáteis saberão/ que o mundo ficou mais belo, ainda que inutilmente,/ quando por ele andou teu coração”.

Marielle vive! Junto com ela, enxugando as lágrimas, continuaremos a clamar: Quem? Por quê? Para quê?

A resposta será a senda para a superação das trevas, caminho para uma nação justa e fraterna. Marielle é páscoa, passagem da cruz para a luz. Travessia.

*Chico Alencar é professor, escritor e deputado federal (PSOL/RJ) 

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