Existem chances, sim, de uma virada que por gigantesca e surpreendente seria chamada de histórica. Mas o mais provável ainda é que ela não aconteça, e que Jair Bolsonaro (PSL) vá dormir esta noite na condição de eleito presidente da República do Brasil.
Se o segundo turno não fosse hoje, talvez daqui a uma semana – quem sabe? Ou se Lula tivesse liberado mais cedo Fernando Haddad (PT) para concorrer no seu lugar… Se o louco de Juiz de Fora não tivesse esfaqueado Bolsonaro… Ou se, se, se…
O país sairá rachado desta eleição, mas isso não será nenhuma novidade, ora. Saiu rachado da eleição presidencial de 2014 quando Dilma Rousseff, que se negou a abdicar em favor de Lula, por pouco não foi derrotada por Aécio Neves (PSDB).
Não foi por isso que ela caiu. O racha poderá ser bom ou ruim a depender do comportamento futuro do vencedor. Em 2002, depois de três derrotas consecutivas, Lua ganhou com 62% dos votos. Ninguém superou a marca desde então.
Poderia ter se valido da expressiva vitória para tentar impor todas as suas vontades, mas não o fez. Jogou o jogo, até mesmo no que o jogo sempre teve de mais sórdido e reprovável. Reelegeu-se. Elegeu Dilma e a ajudou a se reeleger.
O temor, que a essa altura parece dissipado, era de Bolsonaro se eleger com grande folga, estabelecer um novo recorde de votos e imaginar que o país acabara lhe dando um cheque em branco para pôr em prática todas as loucuras com as quais acenara.
Por natureza, formação e retórica autoritárias, Bolsonaro assusta, assusta muito o país que o rejeita e que continuará a rejeitá-lo. Ganhar de menos não fará dele um cordeiro. Nem operará o milagre de transformá-lo em um estadista. Mas poderá pôr freios nele.
Dada as circunstâncias adversas, Haddad já foi longe demais, e perigosamente longe para o próprio PT que jamais acreditou em sua vitória e nem a desejou. A levar-se em conta que seu candidato de fato está preso, o desempenho do PT superou as expectativas.