Haddad versus Lira: “tiro no pé”, dizem empresários e banqueiros
Para mercado financeiro e empresarial, ministro da Fazenda foi “infeliz” ao reclamar do poder exercido hoje pela Câmara
“Acho que o (Arthur) Lira (presidente da Câmara dos Deputados) tem sido o grande apoiador da política do Haddad. Parece ter sido um tiro no pé esse comentário do ministro da Fazenda”, afirmou um grande empresário ouvido por esta coluna, e resume o sentimento do setor empresarial e de banqueiros sobre a polêmica entrevista dada por Haddad ao jornalista Reinaldo Azevedo, na qual disse que a Câmara tem hoje “muito poder” e que a Casa não pode usar isso para “humilhar” Senado e Executivo.
“Pelo contrário, (a Câmara) tem ajudado a economia”, disse um banqueiro. “Em condições normais, poder demais, sim, atrapalha, mas no caso tem ajudado muito na condução econômica sem deixar que a carruagem saia dos trilhos”, completou outro sócio de banco.
As declarações de Haddad geraram ruído com o presidente da Câmara, que em reação adiou uma reunião que estava marcada para ontem à noite para discutir o projeto do novo arcabouço fiscal – uma das prioridades do governo. A discussão do texto está travada na Câmara por pressão de partidos do Centrão que reivindicam participação no governo Lula – leia-se, ministérios. Haddad teve de ligar para Lira para se explicar. (A Câmara adia novamente a votação do arcabouço, após atrito entre Haddad e Lira).
Até aqui, a relação de proximidade entre Haddad e Lira era vista como uma janela para a aprovação dos projetos de interesse do governo na Câmara. Depois desse episódio, o receio é de que as votações entrem em “banho maria” ou que os parlamentares passem a fazer maiores exigências para a votação dos projetos, o que na política nacional geralmente se traduz na inclusão de “jabutis” aos textos legislativos. “Normal para um governo que mão tem maioria no Congresso”, conclui outro banqueiro.