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Mundo Agro

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De alimentos a energia renovável, análises sobre o agronegócio

É correto dizer que o agro não traz industrialização?

Ao contrário do que alguns pensam, há grande contribuição para o desenvolvimento industrial

Por Marcos Fava Neves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 14 nov 2024, 14h10

O protagonismo do Brasil no cenário agrícola mundial não é ao acaso, mas sim proveniente de diversas vantagens comparativas e competitivas: dimensões continentais (1); condições climáticas favoráveis (2); e o investimento consistente em pesquisa e desenvolvimento (3). Dessa forma, foi possível expandir culturas como a soja e milho para regiões como o Cerrado, além de desenvolver cultivares adaptados e práticas agrícolas sustentáveis, como o plantio direto, irrigação, integração Lavoura-Pecuária, entre outras. Segundo dados da Conab, nos últimos 30 anos, a produção brasileira de grãos saltou de 58 milhões de toneladas, em 1990, para mais as esperadas 322 milhões de toneladas em 2024, enquanto a área plantada cresceu em proporção muito menor, de 38 milhões para cerca de 82 milhões de hectares (+ 97%).

Mesmo assim, é comum nos depararmos com colocações de que o agro não contribui com a necessária industrialização do Brasil, são produtos “primários”, sendo importante mostrarmos que estas não estão corretas por dois motivos principais.

Primeiro equívoco é que estas colocações não consideram as indústrias que estão dentro do agro, provavelmente pelo desconhecimento do conceito de agro.

A agricultura é uma grande promotora do desenvolvimento industrial, gerando oferta e demanda para dezenas de tipos de indústrias nas mais variadas cadeias. Impulsiona segmentos como: as indústrias de bioenergia (a), que guiam o país para uma transição energética mais limpa e renovável (exemplos: usinas de cana-de-açúcar, usinas de etanol de milho, de biogás, biodiesel, biometano e outras, além dos seus fornecedores); as indústrias frigoríficas e laticínios (b), que transformam proteína animal nos mais variados cortes e produtos processados; indústrias têxteis (c) que processam o algodão para transformá-los em roupas e trajes (fiações, tecelagens, malharias e confecções); indústria de máquinas e equipamentos (d); a gigante indústria de alimentos (e), que processa, desde o suco de laranja e o café até frutas e vegetais; a indústria de papel e celulose (f), que nos proporciona as embalagens, os papeis com finalidade sanitária e outros; a indústria de móveis (g), que transformam a madeira cultivada em nossas mesas, cadeiras e bancadas; a indústria da borracha (h), que nos proporciona o pneu e outros produtos; a indústria de couro (i), para as botas, bolsas e casacos; além das indústrias de insumos agrícolas (j) e nutrição animal (k).

O Brasil é referência nestas indústrias citadas que foram historicamente impulsionadas por uma agricultura eficiente e fazem parte do agro. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), somente as agroindústrias são responsáveis por empregar 4,7 milhões de pessoas; além de representar cerca de 5,9% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

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E em relação ao futuro, devem continuar demandando grandes investimentos industriais, apenas a título de exemplo temos a Eurochem e a recente fábrica de fertilizantes inaugurada em Serra do Salitre (MG), com investimento de R$ 8,2 bilhões. No setor de papel e celulose, indústrias têm sido instaladas principalmente no Mato Grosso do Sul, com investimentos que superam os R$ 20 bilhões por unidade. No etanol de milho, cada planta traz investimentos na ordem de R$ 1,2 bilhão e muitos projetos estão anunciados. Na área de processamento de grãos, diversas cooperativas anunciam investimentos em unidades industriais para fabricação de farelo e óleo na casa de R$ 1 bilhão, impulsionando o desenvolvimento regional e gerando empregos e oportunidades.

O segundo equívoco do pensamento que o agro não traz industrialização é que por ser gerador de uma renda anual nas atividades agrícolas e pecuárias próxima a R$ 1,2 trilhão e por exportar cerca de R$ 900 bilhões por ano, esta renda toda gera consumo e movimenta as indústrias de automóveis, cosméticos, construção civil, aviação, eletrodomésticos, eletrônicos e outros bens de consumo industriais, além do setor de serviços. Se não fosse esta renda e consumo, estes setores seriam muito menores no Brasil.

As críticas, apesar de equivocadas, não tiram o necessário processo de se caminhar para mais industrialização nos produtos a serem vendidos principalmente ao exterior, se possível agregando cada vez mais valor. A título de exemplo, caso o Brasil não exportasse carne de frango e de suínos, que são produtos industrializados, e exportasse o equivalente em soja e milho que os animais comeram ao longo do seu desenvolvimento, as exportações anuais cairiam de US$ 13 bilhões para US$ 3 bilhões.

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O sonho a ser perseguido é o de ocupar o máximo do mercado de produtos primários, tais como a soja e o milho, que tem sim valor agregado e são muito importantes ao Brasil, e paralelamente caminhar para uma industrialização cada vez maior, exportando produtos prontos, embalados, encaixotados, que podem ir direto para as gôndolas dos supermercados internacionais.

Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) da Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) e fundador da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em harvenschool.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves). Agradecimentos a Vinícius Cambaúva e Rafael Rosalino.

 

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