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Vírus do erro: reação excessiva a ômicron é pancada em Boris Johnson

Os próprios conservadores não aguentam mais os pontos fracos do primeiro-ministro, ressaltados por nova onda de restrições

Por Vilma Gryzinski 13 dez 2021, 07h45

Os chineses chamam de “mandato do céu” – a autoridade de origem divina que legitimidade – e plenos poderes – ao imperador.

Como não existe isso nas democracias, o conceito mais próximo é o de credibilidade. Custa ganhar e é fácil de perder. E uma vez perdida, bye bye. Não volta mais.

É isso o que aconteceu com Boris Johnson.

Como improvável líder conservador, com os cabelos propositalmente despenteados e uma vida amorosa nada convencional, ele descobriu um canal de comunicação com o eleitorado que parecia quase miraculoso.

Apoiou o Brexit e o Brexit ganhou nas urnas. Convocou uma eleição geral fora de hora e os conservadores ganharam uma maioria de 365 parlamentares (os trabalhistas, consumidos pelo esquerdismo infantil de Jeremy Corbyn, encolheram para 202). Em eleições regionais, eleitores que há gerações votavam no Partido Trabalhista deram um mandato aos conservadores que deveria valer ouro.

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Acabou valendo nada diante da  incoerência ideológica, dos erros tolos e do constante zigue-zague de Boris. Tendo acertado espetacularmente ao liberar os gênios domésticos na busca da vacina e num vasto programa de aquisição de imunizantes, Boris acabou deixando os pontos fracos suplantarem as cartas tão fortes que tinha em mãos.

O erro mais recente foi perder a cabeça fria diante da variante ômicron e sair correndo atrás de um plano que, mais do que descontentar, deixa muita gente indiferente. Volta das máscaras nos ambientes fechados? Rostos descobertos desafiam a nova diretriz. Retorno ao trabalho remoto? Uns cumprem, outros não.

Maior exagero: um plano para vacinar um milhão de pessoas com a terceira dose por dia até o fim do mês, abrangendo toda a população adulta do país. Simplesmente não é factível.

A impressão é que Boris se descontrolou diante dos prognósticos mais negativos sobre a nova variante. Não existe governante no mundo que não tenha errado, por excesso ou falta de intervenção, diante de um problema novo e avassalador como o vírus que já matou mais de cinco milhões de pessoas.

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Mas o primeiro-ministro britânico estabeleceu um padrão: problemas menores interferem no que realmente importa, ele tenta dar tudo por resolvido, é obrigado a voltar atrás e acaba passando a impressão de que não é um líder confiável.

O problema paralelo do momento são festas  de integrantes da cúpula do governo no ano passado, quando o país inteiro estava submetido a regras estritas que não permitiam o congraçamento entre parentes e amigos de domicílios diferentes.

Uma delas foi comprovada através de um vídeo em que a porta-voz – agora ex – de Boris faz piada sobre a “reunião de trabalho”.

Para alegria dos jornalistas, existe uma fonte com acesso às imagens feitas dentro do complexo de instalações do governo em Downing Street. Isso ficou claro em junho, quando circulou o vídeo em que o então ministro da Saúde, Matt Hancock, aparecia enroscado em beijos calientes com uma assessora. Boris agiu como sempre: tentou defender Hancock, não deu certo e acabou por dispensá-lo depois que todos já estavam com o filme queimado (Hancock e a amante largaram os respectivos cônjuges e hoje formam um casal feliz, embora fora do governo).

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Boris Johnson é um caso típico de político em que o excesso de inteligência atrapalha – a família à qual  pertenceu Bill Clinton. São líderes tão bem falantes, tão carismáticos,  tão acostumados a ganhar qualquer debate no gogó, que acham que podem adaptar as regras às suas personalidades esfuziantes.

Uma hora, a maré vira quando os fatos, estes renitentes fenômenos, se interpõem à versão. Esta hora ainda não chegou para Boris, embora amanhã mais de sessenta parlamentares conservadores devam votar contra a “miserável distopia”, segundo a definição de um companheiro ideológico, representada pelas novas medidas de combate à variante ômicron.

Segundo as pesquisas mais recentes, se houvesse eleição hoje, os trabalhistas teriam 41% dos votos e os conservadores, 32%. A popularidade de Boris está no chão: 24% o aprovam contra 59% que não.

A eleição geral será apenas em maio de 2024, mas os conservadores, que estão vendo o partido desmoronar, dificilmente vão ficar parados, esperando até lá. Boris Johnson estava presente quando os “homens de cinza” deram o veredicto a Theresa May: ela tinha perdido o apoio do partido. Sem o mandato do céu,  a ex-primeira-ministra voltou para seu lugar na turma do fundão do Parlamento.

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Os homens de cinza, oficialmente o Comitê de 1922,  entram em ação quando pelo menos 15% dos parlamentares conservadores – atualmente, seriam 48 – escrevem pedindo um voto de confiança no primeiro-ministro. Geralmente, a votação nem precisa ser feita e a pessoa na chefia do governo se poupa da humilhação.

Boris não está nesse barco, mas nas casas de apostas já estão sendo cotados os sucessores em potencial. O mais falado: Rishi Sunak, atual ministro das Finanças, que poderia se tornar o primeiro chefe de governo de origem indiana. Uma novidade e tanto, perfeita para esvaziar a bola de notícias que Boris sempre cria, contra ou a favor.

Uma das mais recentes tolices de grande repercussão envolveu um discurso a líderes empresariais. Boris desatou  a falar das qualidades conservadoras de Peppa Pig e família, num dos discursos mais bizarros de uma lista nada pequena. A digressão pode ser atribuída ao fato de que ele tem um filhinho de pouco mais de um ano – e agora ganhou uma menininha.

O primeiro-ministro estava viajando ou falando numa linguagem que o povão pode entender – quem tem criança em casa e nunca viu a simpática Peppa?

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A popularidade em queda indica que nem pegando carona na antropomórfica porquinha está ajudando o primeiro-ministro.

Além de Theresa May, John Major e sua titânica antecessora, Margaret Thatcher, rodaram por rebeliões internas do Partido Conservador. David Cameron foi obrigado a renunciar por causa do Brexit.

Boris teria um truque de mágica, entre tantos que já exibiu, para evitar um fim abreviado de sua carreira política como chefe do governo de Sua Majestade? Ou terá que ouvir uma adaptação da frase de Peppa ao irmão George: “Boris, você fez tudo errado”?

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