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Por Vilma Gryzinski
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Um deficiente, uma mulher e outros ministros acusados de abuso sexual

Nenhum outro governo tem tantas, e tão estranhas, denúncias contra seus integrantes como o do altamente correto Emmanuel Macron

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 30 jun 2022, 22h23 - Publicado em 30 jun 2022, 08h53

Pode um deficiente vítima de uma doença rara, que produz grave atrofia nos braços e nas pernas, dominar e violentar uma mulher?

Damien Abad, que sofre de artrogripose, diz que é impossível. Ele é ministro da Solidariedade, da Autonomia e das Pessoas Deficientes. Logo depois que foi nomeado por Emmanuel Macron, vieram à tona denúncias de abusos sexuais.

Uma das mulheres disse que ele pôs algo em sua bebida, durante uma festa, em 2010. Foi ao banheiro cuspir a bebida suspeita e, ao sair, ele a esperava na porta. Arrastou-a para o quarto e tentou obrigá-la a fazer sexo oral. “Fiquei com medo, apavorada, me debati e bati na barriga dele”. Outro convidado entrou no quarto e ela aproveitou para escapar.

Segundo outra acusadora, ela começou um ato sexual consensual com o acusado, mas ele a obrigou a fazer sexo anal, o que não queria.

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Macron, que tem um senso muito forte da liturgia do cargo, o manteve no gabinete. Abad, escorado na sua deficiência, está processando a primeira acusadora por calúnia. Ele foi reeleito.

Mais estranho ainda é o caso da secretária do Desenvolvimento, a ginecologista Chrysoula Zacharonpoulou. Duas mulheres a acusam de violação durante consultas médicas.

Como uma mulher é envolvida nesse tipo de crime? Teriam as acusadoras confundido desagradáveis exames ginecológicos com violência sexual?

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Tudo isso está sendo investigado. A médica de origem grega é uma especialista em endometriose que entrou no governo pouco antes da eleição legislativa do começo do mês na qual Macron perdeu a maioria e, segundo vários analistas, a capacidade de fazer um governo efetivo.

Manter acusados de violência sexual nos cargos, enquanto a justiça os investiga, é uma prática que Macron consolidou desde que o ministro do Interior, Gérald Darmanin, entrou na lista. Sua acusadora é Sophie Patterson-Spatz.

Ela diz que o incidente aconteceu em 2009, quando Darmanin era encarregado de assuntos jurídicos do partido de centro-direita que hoje se chama Republicanos. Procurou-o, por carta, para tentar revisar a condenação de um ex-namorado. Segundo sua denúncia, ele condicionou a ajuda a favores sexuais. Ela concordou em “entrar na dança”, segundo suas palavras. Na justiça, mostrou as mensagens trocadas:

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“Abusar de sua posição. Da minha parte, é ser um crápula nojento. Quando sabemos do esforço que fiz para transar com você. Para que cuidasse do meu caso”.

Resposta:

“Você tem razão, eu sou com certeza um crápula nojento. O que posso fazer para ser perdoado?”.

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Troca de favores, uma moeda repugnante, mas muito conhecida, de pessoas sem escrúpulos em posições influentes, pode ser considerada violência sexual? Como provar que foi um ato de constrangimento e não consensual? E o caso da mulher que iniciou com Damien Abad uma relação consentida, mas diz ter sido abusada depois?

Em empresas e instituições americanas, as regras são claras: toda relação entre superiores e subordinados, mesmo sem nenhum constrangimento, é terminantemente proibida.

O caso mais recente de grande projeção foi o de Jeff Zucker, o chefão da CNN. Ele tinha um envolvimento de muitos anos com Allison Gollust, vice-presidente e diretora de marketing. Aparentemente, os dois ainda eram casados com outras pessoas quando o relacionamento começou. Allison e o marido foram morar no mesmo prédio que Zucker e a mulher. Posteriormente, ambos se divorciaram e foram assumindo a relação conhecida dentro e fora de seu círculo profissional e social.

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Ambos estão fora da CNN, que pertence ao grupo Warner Brothers Discovery. O novo presidente, Chris Licht, está aproveitando a virada para tentar baixar o tom excessivamente partidário do canal a cabo que começou como uma confiável “agência de notícias com imagens” e, durante o governo Trump, se transformou num órgão dedicado 24 horas à militância contra o presidente. O fim da era Trump trouxe uma consequente queda na audiência.

Nenhuma pessoa pode alegar, hoje, que ignora as regras em vigor sobre o comportamento impróprio em matéria de insinuações, convites, pedido de favores, mãos bobas e outras práticas que todo mundo sabe serem proibidas.

Cada caso dos ministros franceses acusados está sendo investigado e todos, obviamente, têm direito a só serem considerados culpados depois do devido processo legal.

Politicamente, é diferente. Macron aposta que irão se sair bem e não respingar sujeira no governo. É uma aposta arriscada. Nicolas Hulot, ex-ministro da Transição Ecológica e apresentador de televisão, está sendo acusado de abusos sexuais por seis mulheres. Uma delas diz que tinha 16 anos quando Hulot a convidou para assistir um programa que ele apresentava e, depois, em seu carro, tentou obrigá-la a fazer sexo oral.

Hulot saiu em lágrimas do governo, como se fosse um mártir ambientalista. Hoje, diz que está sendo alvo de “linchamento”.

Para que não se sinta sozinho, o ex-secretário do Meio Ambiente no governo Hollande Jean-Vincent Placé, adotado na Coreia do Sul quando bebê, teve que pagar uma multa de 5 mil euros por assédio sexual a uma policial que fazia a guarda de sua residência oficial. Em outro caso da mesma natureza, chegou a ser colocado em prisão temporária.

É alguma coisa na água que os ministros franceses bebem ou simplesmente falta de noção sobre as consequências de atos que a sociedade não aceita mais? Por acaso ignoram que as assediadas que aceitam os avanços são estritamente vigiadas pelas que os rejeitam? E que a rádio peão sabe tudo?

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