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Tê-los ou comê-los? Coreia do Sul discute proibir carne de cachorro

Isso sim é mudança cultural: países onde caninos são vistos como iguaria procuram melhorar a imagem e banir os companheiros animais do cardápio

Por Vilma Gryzinski 26 nov 2021, 07h40

Todo dia é dia de “Batatinha frita, um dois, três…”, o jogo cruel da série Squid Game, para cães criados como comida num arco de países asiáticos – incluindo as duas Coreias, China e Vietnã.

As tentativas de acabar com o hábito esbarram em resistências culturais, especialmente dos mais velhos, habituados a gostar de bosintang, a sopa de carne de cachorro, nos quais enxergam qualidades culinárias e propriedades restaurativas, especialmente no verão.

Para jovens sul-coreanos, muitas vezes vestidos como os ídolos do BTS, carne de cachorro causa tanta rejeição quanto aos brasileiros urbanos que descobrem o gosto por churrasco de bicho-preguiça ou ensopado de tatu em regiões de vida selvagem farta.

Os pratos com carne de cachorro, sem falar nas condições atrozes em que os animais são criados, também provocam constrangimento social, tanto na Coreia do Sul quanto na China, países que querem ser conhecidos pelos avanços tecnológicos e não por hábitos estranhos no mundo ocidental.

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“Não teria chegado a hora de considerar prudentemente a proibição ao consumo de carne de cachorro?”, perguntou, cheio de dedos, Moon Jae In, o presidente de centro-esquerda que vive fazendo gestos não correspondidos de abertura para a Coreia do Norte – seus pais vieram de lá e ele teve uma infância muito pobre.

Moon criou uma força-tarefa para cuidar do assunto – e não parece ser um jeito de simplesmente camuflá-lo.

Com o desenvolvimento da Coreia do Sul, que nas últimas décadas chegou a 32 mil dólares per capita, cães acabaram virando pets, não apenas animais de companhia, mas símbolos de status. Um fenômeno semelhante aconteceu na China, onde o governo tem uma capacidade maior ainda de intervenção na vida dos cidadãos, mas ainda não conseguiu eliminar os cachorros do cardápio (e se a algum incauto for oferecido um prato chamado “O Tigre e o Dragão”, saiba que é uma sopa feita com carne de gato e de cobra).

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“A Coreia do Sul é o único país desenvolvido do mundo onde se come carne de cachorro, algo que prejudica nossa imagem internacional”, espeta Lee Won Bok, diretor da Associação Coreana de Proteção dos Animais.

“Mesmo que o BTS e o Squid Game estejam em primeiro lugar no mundo, os estrangeiros ainda associam a Coreia do Sul à carne de cachorro e à Guerra da Coreia”.

O maior mercado de carne de cachorro de Seul fechou no começo do ano. Existem cerca de cem restaurantes na cidade onde a sopa canina ainda é servida. Segundo uma pesquisa do ano passado, 84% dos sul-coreanos nunca comeram o prato e 60% são a favor do fim desse comércio.

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Forçar a mudança de hábitos culturais, mesmo quando não são mais majoritários, pode provocar o efeito oposto.

A Covid-19 impulsionou a proibição do consumo de animais silvestres na China, mas ele está muito longe de ter sido eliminado.

Durante o longo reinado de Mao Tsé Tung, os cães foram sistematicamente eliminados como pragas que consumiam recursos racionados e espalhavam doenças (também lançou a campanha das Quatro Pestes, ratos, moscas, pernilongos e pardais, que resultou em grave desequilíbrio ecológico, num sinal de que nem um tirano formidável como ele podia dominar a natureza).

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Ter cachorros, como ter filhos, virou um símbolo de status com a abertura da economia e a ascensão à classe média de centenas de milhões de chineses. A licença para ter cachorros custa caro, mas é claro que não faltam influencers caninos, cães que fazem sucesso nas redes sociais, como Sylar, o simpático border colllie que virou uma estrela do mundo digital e hoje tem uma casa com hidro e piscina avaliada em 500 mil dólares – seu dono ficou milionário com ele e abriu uma negócio de rações e brinquedos.

De brincadeira, é possível dizer que os cães domesticaram os humanos há cerca de dez mil anos, colocando-os a seu serviço para obter abrigo, comida e carinho. Comê-los, fora da região asiática onde são iguaria, só em casos extremos de fome, quando o tabu contra  ingerir carnívoros é suplantado pela lei da sobrevivência.

Longe dos olhos do público sensível aos pets, cães são utilizados em pesquisas de laboratório onde duas necessidades se confrontam: conhecer melhor doenças que nos afligem e os remédios para combatê-las e causar o menor sofrimento possível aos animais através dos quais podemos fazer isso.

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Nada, por exemplo, abalou tanto o prestígio de Anthony Fauci, o virologista americano que se transformou em inimigo predileto dos conservadores, pelos argumentos, às vezes cambiantes, em favor de medidas restritivas na pandemia, quanto a divulgação de que seu instituto financiou pesquisas em que beagles eram cruelmente picados pelo mosquito que causa a leishmaniose.

Os exageros foram desmentidos, mas não a natureza da pesquisa.

Defensores mais apaixonados dos direitos dos animais contestam não apenas esse tipo de pesquisa, mas até que pets, mesmo bem tratados, sejam mantidos para o prazer de seus donos. Perdão, tutores.

Se tê-los é discutível, imaginem comê-los.

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