Ele “tem um amplo espectro antiviral que mata todos os vírus e todas as variantes”, palavras que parecem boas demais para ser verdade.
Quem as disse foi a inventora do spray nasal, a bioquímica Gilly Regev, israelense baseada no Canadá, onde é uma das fundadoras da SaNOtize Research and Development Corp.
Israel e Nova Zelândia deram aprovação provisória para a comercialização do spray, que foi testado em conjunto com duas instituições científicas britânicas.
Os testes foram de fase dois, com um número menor de voluntários. O spray é multiuso: funciona para prevenção, para evitar a transmissão, reduzir a duração da doença e mitigar a severidade dos sintomas nos infectados.
Não deve, obviamente, ser visto como uma panaceia, mas como uma arma a mais num arsenal de poucos recursos no combate à pneumonia resistente e, numa parcela dos casos, fatal provocada pelo novo coronavírus.
É pelo nariz que ocorre a vasta maioria das infecções, como todo mundo já sabe. O outro sócio da empresa que desenvolveu o spray, Chris Miller, resumiu assim o que o medicamento faz: “Mata os vírus nas vias aéreas superiores, impedindo que incube e se propague para os pulmões”.
O spray tem como componente principal o óxido nítrico, uma nanomolécula produzida pelo organismo humano que atua como protetora das células em situações de estímulos fortes.
Gilly Regev brincou que seu sócio a introduziu “no mundo louco do óxido nítrico” – usado em outras formulações para apressar o aumento da massa muscular e propulsionar ereções.
“Esperamos que nosso spray salve muitas vidas em países que estão esperando pela vacina”, disse ela ao site Times of Israel.
Por motivos óbvios, o spray nasal pode ter um papel importante nos países mais pobres, com menos estrutura para a compra, o armazenamento e a administração de vacinas contra a Covid-19.
“Acredito realmente que quem usar diariamente o spray não será afetado pela Covid-19. Mostramos em testes clínicos que pessoas que o usaram não foram infectadas”, disse ela. A bioquímica comparou o spray a um higienizador de mãos para o nariz.
Nos testes da fase um, com animais de laboratório, o spray mostrou uma redução de 95% da carga viral depois do primeiro dia de uso.
O produto não deve ser confundido com a vacina, também por spray nasal, que está sendo pesquisada por farmacêuticas chinesas e indianas.
A vacina por spray faz parte da nova geração de imunizantes em fase de desenvolvimento. Entre elas, a vacina de uma só dose, utilizando a tecnologia do vetor viral; a “enganadora de vírus”, que usa uma proteína parecida com o agente da Covid, e uma mais complexa e inovadora ainda, que usa o DNA para operar em conjunto com o RNA mensageiro (como as vacinas da Pfizer e da Moderna) e dirigir a formação de proteínas.
Comparado com essas pesquisas, o spray nasal é um acessório bem modesto, cujos resultados ainda estão para ser vistos no mundo real, o das infecções em massa que continuam a grassar pelo mundo.
É preciso muita cautela com as palavras “mata o vírus”, pela expectativa que criam – uma esperança que não deixamos de ter, mesmo que o SARS-CoV-2 tenha sido até agora tão duro de roer quanto seu nome oficial.